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Nem a Copa do Mundo salvou as vendas de eletrônicos; setor vai fechar ano no vermelho

Com juros elevados e alta nos custos, vendas devem cair mais de 10% no fechamento de 2022; setor pleiteia encontro com a equipe de transição do novo governo para fomentar o consumo

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Por Márcia De Chiara
Atualização:

A Black Friday e a Copa do Mundo deram um ânimo às vendas de televisores e eletroportáteis da indústria em outubro. Apesar desse alívio pontual, o desempenho de todas as linhas de eletroeletrônicos continuou no vermelho neste ano. A perspectiva do setor como um todo é fechar 2022 com queda nas vendas, em números de peças, na casa de dois dígitos. Isso agrava o cenário que já tinha sido negativo em 2021.

Em outubro, os fabricantes de TVs ampliaram em 22% as quantidades vendidas de televisores para o comércio em relação ao mesmo mês de 2021, enquanto nos portáteis o acréscimo foi de 8,3%, na mesma base de comparação, segundo a Eletros, associação que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos. Apesar dessa reação, no acumulado do ano até outubro, a venda de TVs caiu 1% e nos eletroportáteis o recuo foi de 8%.

Clientes compram TVs em shopping durante a Black Friday em São Paulo. Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP 

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O quadro é mais crítico para as vendas de aparelhos de ar condicionado e nos eletrodomésticos da linha branca, que reúnem geladeiras, fogões e geladeiras. A linha branca registra queda de 12,3% nas vendas em outubro ante o mesmo mês de 2021 e acumula um recuo de 19% no ano. No ar condicionado, a retração foi de 22% em outubro e também no acumulado do ano.

“Os números são bens ruins e devemos fechar o ano com essa tendência”, afirma José Jorge do Nascimento, presidente da Eletros. Hoje a indústria trabalha com 30% de ociosidade e o principal obstáculo para a venda de duráveis é o juro elevado, que encarece a prestação, além da inflação de custos, observa.

Segundo Nascimento, 2022 será um dos piores anos da última década para a venda de eletroeletrônicos. Ele lembra que, em 2014, a indústria chegou a vender 15 milhões de TVs por conta da Copa. E, nesta Copa, não deve chegar a 10 milhões de aparelhos. “É a total falta de consumo”, afirma.

Novo governo

Para tentar dar a volta por cima, o setor está focando na redução de custos, renegociando com fornecedores, e também pleiteia um encontro com a equipe de transição do novo governo em busca de políticas para fomentar o consumo. O pedido de reunião já foi feito para o grupo encarregado da indústria, comércio e serviços e a expectativa é que a reunião aconteça nesta semana ou na próxima.

Questionado se o pleito da indústria seria a reedição de medidas que houve no passado de corte de imposto, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que impulsionaram as vendas, o presidente da Eletros diz que não sabe se haveria espaço para algo nesse sentido. “Estamos tentando construir alguma parceria com o setor da construção civil na entrega de novas moradias: quanto mais imóveis são vendidos, mais eletrodomésticos, também.”

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Por ora, não há no radar das indústrias demissões. “Demissão não passa pela nossa cabeça”, diz Nascimento. Ele argumenta que a mão de obra usada na área é treinada, e demitir seria desperdiçar o que foi investido em qualificação de pessoal.

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