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Carreira em tecnologia continua promissora apesar de onda de demissões, mas salários podem cair

Com readequação do mercado, empresas devem focar em projetos mais sustentáveis e na contratação de profissionais mais qualificados, segundo executivos da área

Foto do author Bruna Klingspiegel
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Foto do author Ludimila Honorato
Por Bruna Klingspiegel , Felipe Siqueira , Jayanne Rodrigues e Ludimila Honorato

A onda global de demissões que se estende desde o ano passado em startups e big techs como a Microsoft chacoalhou as estruturas do mercado de tecnologia. Executivos ouvidos pelo Estadão, porém, dizem que há vagas na área e que elas continuarão existindo, mas de forma mais criteriosa. Segundo eles, a fase é passageira, e o setor continua promissor para os profissionais.

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Diego Alvarez, cofundador da edtech Strides, afirma já ter visto esse cenário antes. Em 2008, ele fazia estágio na Microsoft, nos Estados Unidos, e presenciou demissões em massa diante da crise financeira. Ali, ouviu histórias sobre o crash da bolha da internet em 2001, quando empresas de tecnologia se desfizeram após uma fervorosa alta de investimentos. “Hoje, certamente, é um desses momentos de novo, de um ciclo depois de uma grande euforia acontecendo”, avalia.

Para Marco Stefanini, CEO do Grupo Stefanini, as demissões em massa não ocorreram por falta de espaço no mercado, mas por necessidade de enxugar a estrutura em empresas nas quais o número de profissionais estava superestimado.

Ele é otimista e diz acreditar que o mercado continuará favorável para quem deseja seguir carreira em tecnologia. Porém, avalia que a demanda por pessoas qualificadas e especializadas continua e acompanhará o amadurecimento tecnológico do País.

“Este é um momento de adaptação. Provavelmente, boa parte desses profissionais demitidos será absorvida pelo mercado, uma vez que existe um gap muito grande de pessoas com essa formação tecnológica”, diz.

Número de profissionais estava superestimado, por isso as demissões ocorrem agora, avalia Marco Stefanini, CEO do Grupo Stefanini Foto: Tim Basham

Claudia Farias, diretora de tecnologia e cofundadora da SafeSpace, segue o mesmo raciocínio, mas afirma que é cedo para concluir que o cenário de demissão tenha chegado ao fim. “Talvez, a gente deva se valer de um otimismo um pouco mais tímido, já que os sinais de uma possível recuperação, no momento, não estão claros”, pondera. Ainda assim, ela diz acreditar que, aos poucos, o mercado vai apresentar indícios de retomada.

Para Cláudio Azevêdo, cofundador da Strides, os profissionais brasileiros podem ter melhores oportunidades. “Empresas tradicionais do Brasil estão contratando seus primeiros times de tecnologia porque precisam se digitalizar. Se olhar o mercado, as vagas continuam abertas, não no Google ou na Microsoft, mas em empresas de nível regional e nacional”, afirma.

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Demanda por qualificação

Para os executivos, o cenário força as organizações a investirem em projetos mais sustentáveis e em contratações mais assertivas, elevando a régua de critérios. Alvarez entende que a situação é mais desafiadora para quem está começando ou não é qualificado. “Para quem está preparado, vai ser um momento muito bom, porque as empresas serão mais criteriosas”, comenta.

Já Claudia Farias avalia que o mercado brasileiro aparenta estar preparado para as futuras mudanças por ter compreendido aspectos importantes que favorecem o clima organizacional, como diversidade, inclusão e bem-estar. “É um ponto a favor para quem está em busca da primeira oportunidade, porque isso deixa a decisão um pouco mais nas mãos dessas pessoas. Elas não precisam aceitar a primeira proposta”, diz.

A atualização contínua de conhecimentos impacta na vitalidade do profissional no mercado. Um estudo da Society for Human Resource Management, de 2018, mostrou que funcionários que buscam desenvolver a carreira são 12% menos propensos à demissão. Essa capacitação constante também faz com que a pessoa tenha 5,4 vezes mais chances de ser promovida, segundo pesquisa da Harvard Business Review, de 2017.

Diego Alvarez (esq.) e Cláudio Azevêdo, cofundadores da edtech Strides Foto: Anderson Alves de Macedo Júnior

Remuneração menor

De acordo com o diretor-geral da LANDtech, Paulo Moraes, a recolocação de profissionais deve ocorrer, mesmo que demore um pouco, mas o maior impacto será na remuneração. A tendência, diz, é que os pagamentos sejam inferiores, especialmente nos casos de profissionais que buscam essa recolocação.

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“Estamos passando por um ajuste de mercado e as empresas estão reduzindo a remuneração nas ofertas. E isso vem acontecendo nas duas pontas: por necessidade, já que as startups precisam reduzir custos, e por oportunidade de negócios”, afirma.

Moraes compara o momento atual com o que ocorreu há cerca de 15 anos, quando houve um boom por profissionais na área de óleo e gás. Ele lembra que, quando a demanda no setor explodiu, os salários foram junto. Mas, quando a necessidade por novos profissionais foi reduzida, as empresas não mantiveram o mesmo patamar de remuneração.

No cenário atual, ele aponta duas opções. A primeira é a companhia demitir o funcionário sênior e contratar alguém mais jovem para pagar menos. A segunda é ter um profissional sênior disponível que aceite receber uma remuneração menor, porque não consegue ficar muito tempo longe da atuação profissional.

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Oportunidades

Na contramão das demissões, o Grupo Stefanini está acelerando as contratações em 2023 e conta com 500 vagas em áreas que envolvem analytics, banking, cibersegurança, ciência de dados, cloud, UX e marketing digital.

Aos trabalhadores atingidos por demissões em massa, a Strides oferece meia bolsa para o programa de liderança em tecnologia ou a possibilidade de pagar a íntegra após a recolocação profissional. O foco da edtech é criar uma comunidade para compartilhar experiências profissionais no ramo e formar novos líderes.

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