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Esclareça as suas dúvidas :: Declarações textuais

1 - A reprodução de declarações textuais (entre aspas) é importante e valoriza o texto. E principalmente mostra ao leitor que houve preocupação do repórter em recolher opiniões ou frases originais, expressivas, marcantes, de efeito ou espirituosas.

2 - É preciso, porém, ter o senso exato da medida: nem declarações textuais em excesso, que dêem ao leitor a impressão de informações derramadas na lauda sem nenhum critério, nem declarações textuais de menos, que não permitam ao leitor ao menos saber se o repórter efetivamente falou com o entrevistado ou se apenas recolheu informações de segunda mão sobre as suas opiniões.

3 - Algumas recomendações de ordem prática sobre a forma de utilizar este recurso:

a) Procure usar declarações textuais a cada um ou dois parágrafos da matéria. Uma frase por parágrafo já seria uma boa medida e ela funcionaria quase como uma testemunha que confirmasse a história ou fato que o repórter quer levar ao leitor. Exemplo: A queda de uma barreira provocou congestionamento de 20 quilômetros na Marginal do Pinheiros, em São Paulo. ''Foi horrível", disse a advogada Denise Barros, que ficou presa no trânsito durante quatro horas. O texto conta uma história e usa a personagem para lhe dar veracidade. O leitor tenderá a confiar mais nas informações que lhe estão sendo transmitidas (não é só o repórter que está dizendo aquilo; outra pessoa está confirmando a informação).

b) É preciso, no entanto, saber usar bem as aspas. Veja como a frase seria reproduzida erradamente: A advogada Denise Barros, que passava pelo local, diz que "foi horrível ficar presa no trânsito durante quatro horas". O recomendável: "Foi horrível", disse a advogada Denise Barros, que passava pelo local. "Fiquei presa no trânsito durante quatro horas." Repare que não há necessidade de nenhum outro verbo declarativo depois da segunda frase: fica claro que é a mesma pessoa quem fala.

c) Não coloque nunca ponto para dar continuidade a uma declaração entre aspas. Por exemplo: "Foi horrível. Fiquei quatro horas presa no trânsito", disse a advogada Denise Barros. O certo é quebrar a frase ao meio: "Foi horrível", disse a advogada Denise Barros. "Fiquei quatro horas presa no trânsito."

d) Apenas na transcrição de trechos de discursos, pronunciamentos, documentos oficiais, ordens do dia e mais alguns poucos textos como esses, será permitida a inclusão de mais de uma frase entre aspas. Mesmo assim, a indicação virá sempre antes do trecho reproduzido, e nunca depois. O certo: Explicou o presidente: "Em 1950, havia dois partidos de um só criador, Getúlio Vargas. Os líderes do PSD não tinham o menor constrangimento em votar no candidato do PTB. Afinal, eram todos ex-governadores nomeados por ele. A situação agora é muito diferente." O errado: "Em 1950, havia dois partidos de um só criador, Getúlio Vargas. Os líderes do PSD não tinham o menor constrangimento em votar no candidato do PTB. Afinal, eram todos ex-governadores nomeados por ele. A situação agora é muito diferente", explicou o presidente. Em entrevistas ou na reprodução de declarações isoladas, esta forma está vetada.

e) Finalmente, não despeje sobre o leitor uma torrente interminável de aspas, como neste exemplo: O prefeito declarou que "o problema dos ambulantes vai ser resolvido" e "o centro da cidade ficará limpo até o fim do mês", porque "o compromisso dele é com a população de São Paulo" e não apenas "com os que votaram nos candidatos do partido".

4 - Nunca deixe de pôr entre aspas as palavras e expressões contundentes, redundantes ou óbvias que, pela estrutura da frase, possam ser atribuídas pelo leitor ao jornal, quando na verdade são do entrevistado: O time entrará em campo amanhã, "a menos que seja novamente burlado em seus direitos", advertiu o presidente. / Para o economista, o orçamento municipal é simplesmente "irresponsável". / O assaltante disse estar arrependido do crime, embora saiba que isso "não traz a menina de volta". / Ministro critica "histéricos" do mercado financeiro.

5 - Não recorra às declarações textuais apenas como forma de contornar as dificuldades que você esteja tendo para traduzir as informações ou opiniões do entrevistado. Mesmo que este diga, por exemplo, que o vulto era de difícil visualização, você, com maior propriedade, escreva simplesmente: Segundo o entrevistado, a pessoa (ou figura ou vulto) era difícil de identificar (ou distinguir ou ver).

6 - Embora as declarações entre aspas devam transcrever com fidelidade as palavras do entrevistado, adapte o texto às normas gramaticais, acerte as concordâncias, elimine as repetições muito freqüentes e contorne os vícios de linguagem. A menos, claro, que haja alguma razão para manter literalmente o texto.

7 - A adaptação do texto às normas lingüísticas não deve, porém, permitir que ele assuma caráter artificial. Uma jovem cantora, por exemplo, dificilmente diria frases como estas que lhe foram atribuídas: "Tudo entre nós sempre foi resolvido no seio da família" ou "Meu pai não pôde aceitar ver-me posar nua para uma revista". A expressão seio da família e a forma não pôde aceitar ver-me posar soam falsas no contexto.

8 - Pode haver casos em que convenha ressaltar os erros ou as formas estranhas das declarações textuais. Nesse caso, nunca deixe de acrescentar um sic!, entre parênteses, logo depois do erro ou da afirmação.

9 - Declarações textuais só devem abrir notícia ou reportagem quando forem realmente de grande importância: "O Brasil voltará a honrar seus compromissos." Com esta declaração, o ministro X pôs fim ontem à moratória que o País havia decretado um ano antes.

10 - Não permita que a declaração entre aspas mude o sujeito da oração, transformando o discurso indireto em direto: O prefeito garantiu que "eu não permitirei esse descalabro". O sujeito estava na terceira pessoa (garantiu) e passou para a primeira (permitirei), quebrando o ritmo e a estrutura do texto. Casos semelhantes podem ser contornados por construções como: "Não permitirei esse descalabro", garantiu o prefeito. / O prefeito garantiu: "Não permitirei esse descalabro." / O prefeito garantiu que não permitirá "esse descalabro". Outros exemplos igualmente inaceitáveis: O presidente disse que "chegou ao meu conhecimento que..."/ O diretor da TV informou que, "se tivéssemos obtido a liminar, ..." / O maestro afirmou que "podemos muito bem fazer um hino..." / A modelo acha que tem um lado sensual "do qual muito me orgulho". / O ditador reservava seu tempo livre "para aprofundar-me em assuntos como história e economia".

11 - Mesmo que não altere a pessoa do verbo, o uso de pronomes possessivos (nosso, seu, sua, etc.) também indica a mudança do sujeito: Disse que durante o dia "desempenhava muito bem suas funções na cozinha". A única coisa que ele poderia ter dito era: "Durante o dia, desempenhava minhas funções na cozinha." Outros exemplos errados: O empresário afirmou também que "tudo será feito na nossa empresa para conquistar o mercado de supergelados". / Segundo o artista, "ninguém muda o meu pensamento".

12 - Abra e feche aspas cada vez que truncar uma declaração por observações introduzidas no texto: "A nação", prosseguiu o deputado, "espera agora que o governo finalmente revele os nomes dos corruptos."

13 - Nos diálogos, use travessões e não aspas:

Com um largo sorriso, o presidente disse ao visitante:

- O senhor chegou na hora.

O chefe do Gabinete comunicou então a presença de mais um convidado.

- Antônio Carlos, você foi um tigre - saudou o presidente. - Por aqui, senhores. E se dirigiu com os dois recém-chegados para o salão de recepção.

14 - Ver também aspas e encampação.