A resposta de Trump a Assad

A evolução da situação na região vai depender mesmo, numa boa medida, é da reação do presidente russo, Vladimir Putin

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Por Redação
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A resposta dos Estados Unidos, com o apoio de seus aliados europeus, ao ataque com armas químicas promovido pelo governo de Bashar Assad contra a população civil, terça-feira passada, que deixou cerca de 100 mortos e dezenas de feridos, não demorou. Veio três dias depois com o bombardeio de instalações militares na Síria, ordenado pelo presidente Donald Trump, que introduz mais um elemento importante no complicado conflito naquele país, cujas consequências dependem principalmente do comportamento da Rússia, aliada de Assad.

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Trump classificou o uso por Assad de armas químicas como “uma desgraça para a humanidade” e, ao anunciar o bombardeio, conclamou “todas as nações civilizadas a se unirem a nós na busca de um fim da matança e do derramamento de sangue na Síria e também para acabar com o terrorismo de todos os tipos e formas”. Sua resposta a Assad logo recebeu internamente o apoio tanto de seus correligionários republicanos como de seus adversários democratas e, no plano internacional, dos principais líderes europeus: a primeira-ministra britânica, Theresa May, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande. E a resposta “não foi um ataque pequeno”, como afirmou o chefe do Conselho de Segurança Nacional, general H. R. McMaster: 59 mísseis Tomahawk foram lançados de destróieres no Mediterrâneo contra pistas de pouso, aviões e centrais de abastecimento.

O seu efeito sobre o conflito na Síria – que opõe Assad, com o apoio decidido da Rússia, a vários grupos rebeldes que não se entendem – ainda não pode ser avaliado. A esta altura, por exemplo, está claro que é possível esperar tudo do presidente sírio, o que dificulta qualquer previsão. Tudo indicava que, fortalecido pela retomada de importantes regiões em poder dos rebeldes, Assad não tinha motivo para uma ação contra a população civil com armas químicas, que causou comoção e indignação em todo o mundo, salvo entre os que, por motivos os mais diversos, o sustentam no intrincado jogo de poder no Oriente Médio.

Aquele ataque bárbaro está, porém, perfeitamente dentro da lógica de seu regime sanguinário e de sua própria formação. Ele traz imediatamente à memória a repressão implacável – desproporcional à força do inimigo, a Irmandade Muçulmana – promovida por seu pai e antecessor, Hafez Assad, em fevereiro de 1982. Hafez Assad mobilizou uma força de 12 mil homens que, com apoio aéreo, arrasou a quarta cidade do país, Hama, deixando dezenas de milhares de mortos, principalmente civis.

Do lado dos Estados Unidos, o bombardeio na Síria, embora represente uma mudança na posição de Trump – durante a campanha eleitoral ele defendeu posições isolacionistas em questões comerciais e militares e disse que os Estados Unidos deveriam se dedicar prioritariamente às questões internas –, nada indica que tenha maior profundidade. A resposta à matança de Assad, apesar de dura, parece até agora mais um fato isolado do que o início de uma escalada.

A evolução da situação na região vai depender mesmo, numa boa medida, é da reação do presidente russo, Vladimir Putin. Trump fez questão de incluir a Rússia entre os países avisados antecipadamente do bombardeio na Síria. Mas isso não impediu a Rússia de suspender o acordo que tinha com os Estados Unidos para coordenar as ações no espaço aéreo da Síria para evitar choques entre suas aeronaves.

A Rússia tem grande interesse estratégico no Oriente Médio e importantes bases militares na Síria, o que explica seu envolvimento direto no conflito e seu apoio a Assad, sem o qual ele dificilmente se manteria no poder. Mas entrar numa escalada que levaria os Estados Unidos a uma intervenção na Síria representa um risco que pode não interessar a Putin correr.

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Dessa vez, em momento de tensão e incerteza, a ONU pode ter um papel a desempenhar como lugar de debate e negociação entre as partes que realmente contam na busca de uma solução para o conflito na Síria.