PUBLICIDADE

Armando Nogueira morre aos 83

Criador do 'Jornal Nacional' sofria de câncer no cérebro desde 2007; corpo do jornalista é velado no Maracanã

Por Silvio Barsetti , Bruno Boghossian e RIO
Atualização:

1927-2010Um dos criadores do Jornal Nacional, da TV Globo, Armando Nogueira morreu ontem pela manhã, aos 83 anos, em decorrência de um câncer no cérebro que o acometia desde 2007. Ele estava em casa, no bairro da Lagoa, zona sul do Rio, acompanhado por enfermeiros, e ainda recebeu a visita do filho, Armando Augusto, chamado às pressas pouco antes das 7 horas. "Nos últimos três anos eu passei a ser pai do meu pai. Ao longo da vida, construímos uma relação de amizade. Ele era um grande mestre."Natural de Xapuri, no Acre, Armando veio para o Rio com 17 anos, formou-se em Direito e iniciou a carreira de jornalista em 1950, no Diário Carioca. Trabalhou nas revistas Manchete e O Cruzeiro e no Jornal do Brasil. Nos anos 90, foi colunista do Estado. Diretor de jornalismo da TV Globo de 1966 a 1990, fez parte de uma geração expoente de cronistas esportivos, ao lado de Nelson Rodrigues. "Ele deixou a marca de seu talento excepcional por onde passou: no jornalismo impresso, na crônica esportiva e, para nós, muito especialmente na televisão", disse João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo.O jornalista esteve no centro de um dos mais polêmicos episódios das eleições presidenciais de 1989, por causa de um debate editado supostamente para beneficiar o candidato Fernando Collor, então em disputa com Lula, e levado ao ar pelo Jornal Nacional. O PT moveu uma ação contra a emissora no Tribunal Superior Eleitoral, mas o recurso foi negado. Diretor de Jornalismo da TV Globo na época, ele teria atribuído a responsabilidade ao então diretor Alberico de Souza Cruz e ao editor de Política Ronald de Carvalho. Apaixonado por aviação, futebol e pelo Botafogo, escreveu dez livros, todos sobre esporte. O mais conhecido, Na Grande Área, reúne crônicas publicadas no Jornal do Brasil e recebeu elogios de Otto Lara Resende e Luís Fernando Veríssimo. "Descobria-se ali que textos sobre futebol também podiam ser bonitos, criativos, líricos, cômicos e - o supremo teste de valor literário - compiláveis", definiu Veríssimo, no posfácio do livro.Armando Nogueira cobriu 15 Copas do Mundo desde a sua estreia no Diário Carioca, em 1950, e 6 Jogos Olímpicos. Era um bom frasista e descreveu Garrincha como o "anjo das pernas tortas". Foi um dos precursores dos debates esportivos na TV. Participava das mesas redondas com comentários inflamados e polêmicos. Até 2009, mantinha o fôlego para os debates esportivos no SporTV e na Rádio CBN. Foi, aos poucos, vencido pelo cansaço e pelo avanço da doença.Repercussão. A morte do jornalista teve grande repercussão. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o governador do Estado, Sergio Cabral, divulgaram nota em conjunto na qual destacaram a trajetória de um "ícone do jornalismo do País". A Confederação Brasileira de Futebol e o Comitê Olímpico Brasileiro estabeleceram luto de três dias, e o Botafogo prestou homenagem com um minuto de silêncio antes do jogo de ontem com o Boavista, pelo Campeonato Carioca.Armando recebeu a última homenagem em um Maracanã vazio, que exibia em seus telões grandes frases daquele que era considerado um "poeta" do jornalismo esportivo. Seu corpo será sepultado hoje, às 12 horas, no Cemitério São João Batista.REAÇÕESLuiz Inácio Lula da SilvaPresidente da República"Armando Nogueira foi um dos nomes de maior destaque da história do jornalismo brasileiro, especialmente na televisão e na crônica esportiva."João R. MarinhoVice-presidente das Organizações Globo"Armando Nogueira moldou a linguagem do telejornalismo brasileiro e deixa para todos nós uma inspiração para o futuro."Alice-Maria Criadora do "Jornal Nacional" "Acho que ele é o responsável pelo telejornalismo no Brasil. O Armando tinha paixão, entusiasmo, amor pela imagem e amor pelo texto."José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o BoniEx-diretor da TV Globo"Armando Nogueira tinha um encantamento pelo texto e encantava as pessoas com ele. Era objetivo, mas o lado lírico fazia com que não abrisse mão do preciosismo do texto." Sérgio Cabral FilhoGovernador do Rio"Grande jornalista, cujo texto se confunde com os melhores momentos do futebol brasileiro."William BonnerApresentador do JN"Foi o homem que criou esse gigante que é o Jornal Nacional. Tudo que eu disser sobre ele será menor do que o que ele representou."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.