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Bagaço de cana, 'resíduo' cada vez mais lucrativo

Geração de energia, venda de créditos de carbono e, no futuro, o álcool celulósico fazem do bagaço nobre insumo

Por Tania Rabello e Fernanda Yoneya
Atualização:

Geração de bioeletricidade, venda de créditos de carbono, alimentação animal e insumo para adubação orgânica. Esses são os atuais usos de um subproduto da indústria de açúcar e álcool que, até o início da década de 90, era considerado um problema e muitas vezes dado de graça pelas usinas: o bagaço de cana.   Veja também:  Em busca do álcool celulósico  Caldeiras elevam rendimento Hoje, cada vez menos vendido ou cedido a terceiros pela agroindústria canavieira, o bagaço virou o insumo principal para garantir a auto-suficiência energética das usinas. Nesta safra, não fosse a utilização do bagaço principalmente para geração de energia, pelo menos 140 milhões de toneladas do resíduo - de uma safra prevista pela Conab em 570 milhões de toneladas - estariam abarrotando os pátios das usinas, já que, de cada tonelada de cana sobram 250 quilos de bagaço, conforme o especialista em bioeletricidade Onório Kitayama, da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), que representa 117 usinas produtoras de açúcar, álcool e bioenergia. Álcool celulósico E o futuro guarda um uso ainda mais nobre para o antes resíduo e agora "co-produto": a produção do álcool de segunda geração, feito a partir da hidrólise do bagaço. "O mundo inteiro está pesquisando isso", diz o engenheiro agronômo especialista em usinas de álcool Rodrigo de Campos. No Brasil, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e a Dedini trabalham com tais pesquisas. O que vai definir, porém, no futuro, se o bagaço será destinado à queima para gerar bioeletricidade ou à produção de etanol celulósico será o mercado. "A tendência será privilegiar o mais lucrativo", diz Campos. Pellets Ainda na questão energética, o bagaço tem sido pesquisado também para ser transformado em pellets, exportados para a Europa para geração de energia. "O bagaço é prensado em bloquinhos, mais fáceis de serem transportados", explica Campos. "Atualmente algumas usinas vendem o bagaço solto para a indústria de suco de laranja, por exemplo. Com pellets, poderiam lucrar mais, pois o bagaço fica concentrado e com maior capacidade de geração de energia." Não só o bagaço está na mira da pesquisa para produção do álcool celulósico, mas também a palha, deixada no campo em grandes quantidades após a colheita de cana. Assim, parte da palha continuaria na lavoura, protegendo o solo, preservando a umidade e virando adubo orgânico. Parte seria transformada em álcool ou até poderia ser queimada nas caldeiras, num cenário em que o bagaço fosse destinado à produção de álcool. Segundo Kitayama, da Unica, caso a palha seja destinada cada vez mais à geração de bioenergia, juntamente com o bagaço, entre 2020 e 2021 o potencial energético do setor passaria para 28.760 megawatts/hora, "o equivalente a duas Itaipus", compara Kitayama, que finaliza: "A cana não deveria mais ser chamada ?de açúcar?, pois ela produz álcool e energia. Deveria ser rebatizada de cana bioenergética." 140 milhões de toneladas: é a quantidade de bagaço de cana que deverá ser produzida nesta safra 8.020 megawatts: será a capacidade de geração de energia das usinas até 2011, segundo a Única 28.760 megawatts: é o potencial de geração de energia pelas usinas até 2021, o equivalente a duas Itaipus

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