Clubes faturam mais, porém as dívidas crescem

Embora alguns venham apresentando superávit, débitos seguem tendência de alta por vários fatores

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Por Anelso Paixão
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"Até a pé nós iremos, com o Grêmio onde o Grêmio estiver." Ou: "Uma vez Flamengo, sempre Flamengo." Ou ainda: "O campeão dos campeões, eternamente, dentro de nossos corações." Apesar de todas as demonstrações de fidelidade, eternizadas em seus hinos, e do bom momento do futebol como negócio, o fato é que a dívida dos principais clubes brasileiros segue crescendo. Dez deles já ultrapassaram a casa dos R$ 100 milhões em 2008. O balanço de 2009 ainda não foi fechado, mas, levando-se em conta a tendência de 2007 para 2008, os números devem ser preocupantes. De positivo, o fato de que alguns clubes apresentaram superávit no exercício passado e devem seguir essa tendência em 2009. O que não representa, como explicam os economistas, garantia de que a dívida vá diminuir, já que nem sempre o dinheiro que sobra é usado para pagar os débitos. Muitas vezes, serve de entrada para novos, como na compra de jogadores ou reforma de estádio.O caso mais emblemático é o do Vasco, cuja dívida saltou de R$ 129,3 milhões em 2007 para R$ 308,1 milhões em 2008 e cujo déficit foi de R$ 9,2 milhão para R$ 276,8 milhões, numa variação negativa impressionante de 2.892%. A explicação, de acordo com Carlos Aragaki, especialista em auditoria de clubes, da Casual Auditores, é simples: "Quando o Roberto Dinamite assumiu a presidência, contratou uma empresa para realizar a auditoria e veio a surpresa", conta. "O problema é que o passivo fiscal estava omitido na gestão do Eurico Miranda. O clube tinha uma série de ações trabalhistas que não estavam contempladas no passivo. Era como se o Eurico acreditasse que o clube não fosse perder nenhuma ação e, por isso, não computava."Na realidade, o Vasco não se tornou o clube com a maior dívida do País em 2008. Só a descobriu. O fato de disputar a Série B em 2009, porém, pode acabar sendo positivo. Primeiro, pela conquista do acesso e do resgate de sua tradição. Depois, porque, levando-se em consideração o que ocorreu com o Corinthians em 2008, o time cruzmaltino pode melhorar suas finanças. "A Série B é um fenômeno curioso. O clube fica com uma mancha em sua tradição, mas as despesas diminuem e as receitas aumentam, especialmente de bilheteria, porque a torcida carrega o time", diz Aragaki.Exatamente por isso, o Corinthians, embora com uma dívida que subiu de R$ 114,6 milhões em 2007 para R$ 118,2 milhões em 2008, teve superávit de R$ 10,8 milhões na Série B, contra déficit de R$ 23,6 milhões em 2007, temporada do rebaixamento. A variação foi de 146,7%. O São Paulo, que veio de três títulos nacionais consecutivos, viu sua dívida saltar de R$ 121 milhões em 2007 para R$ 143,2 milhões em 2008. Apesar disso, teve superávit de R$ 2,2 milhões em 2008. No ano anterior, o superávit foi de R$ 3,8 milhões.Entre os grandes de São Paulo, a menor dívida é a do Palmeiras, mas ainda assim ela segue crescendo. Era de R$ 50,5 milhões em 2007 e subiu para R$ 55 milhões em 2008. O clube ainda teve déficit de R$ 9,4 milhões, menor que o de 2007: R$ 24,1 milhões.Nada, porém, se compara à situação dos times do Rio. Flamengo e Fluminense deviam R$ 249,8 milhões em 2007. Em 2008, o Fla atingiu R$ 278,2 milhões e o Flu R$ 272,9 milhões. No ranking nacional, só perdem para o Vasco. Na questão de déficit e superávit, também fecharam 2008 no vermelho. No Fla, o déficit foi de R$ 3,2 milhões. No Flu, de R$ 43,2 milhões. Ou seja, nem o título nacional do Flamengo e nem a sobrevivência na Série A dos outros será garantia de dias mais felizes para os cariocas. Pelo menos, não por enquanto.

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