Corte seletivo abre caminho para desmatamento, diz estudo

Esperava-se que as atividades ocorressem em locais próximos, mas não exatamente nas mesmas áreas

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma nova pesquisa coloca novamente o corte seletivo de árvores na floresta amazônica sob suspeita. Pelos cálculos do pesquisador norte-americano Gregory Asner e colaboradores - entre eles dois brasileiros -, 32% das regiões usadas para a derrubada programada, entre 1999 e 2004, foram posteriormente arrasadas em até quatro anos. ?Nosso estudo mostra que, no passado, as áreas voltadas para o corte seletivo foram consumidas pelo desmatamento a uma velocidade de 16% no primeiro ano após o início das derrubadas programadas e 5,4% nos três anos subseqüentes?, disse Asner, professor do Departamento de Ecologia Global do Instituto Carnegie, em Stanford, na Califórnia, à Agência Fapesp. O estudo será publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), primeiro no site e depois na versão impressa. Segundo o cientista, é natural que os dois processos ocorram em uma mesma região, por utilizarem as mesmas rodovias abertas no meio da floresta. Mas a alta probabilidade de que o corte seletivo de hoje se torne o desmatamento de amanhã não era esperado. Tudo somado, as chances de uma área seletiva virar um zona destruída em quatro anos dentro da Amazônia, segundo a pesquisa, é de 32,7%. ?A ligação entre corte seletivo, desmatamento e construção de rodovias é claro. As estradas são as principais vias utilizadas pelas pessoas para acessar o patrimônio ecológico?, disse Asner. Para chegar aos resultados apresentados agora, foram utilizadas imagens em alta resolução da floresta amazônica, feitas por satélites. O estudo conseguiu mapear com precisão a ligação entre o impacto sobre a floresta e as estradas. Ao todo, 17 mil quilômetros de matas foram derrubados por ano no período analisado. Dentro de uma distância de 5 quilômetros da rodovia, as taxas de desmatamento e corte seletivo apresentaram os mesmos índices. ?Entretanto, entre 5 e 25 quilômetros, as zonas com corte seletivo foram quatro vezes mais assediadas pelos processos de desmatamento total do que as próprias regiões de floresta intacta?, disse Asner. O pesquisador norte-americano e seus colaboradores enxergam com bons olhos as medidas anunciadas pelo governo federal brasileiro em junho. Segundo o anúncio, deverão ser investidos nos próximos meses R$ 2,4 milhões no monitoramento do desmatamento seletivo na Amazônia, em trabalho a ser desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.