Detroit teme gangues em meio a crise econômica

Cidade que abriga sede da GM teme que desemprego dê impulso a grupos crimonosos.

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Por Rafael Gomez
Atualização:

Os pré-candidatos à Presidência dos Estados Unidos tiveram que dar uma guinada nas suas campanhas desde o ano passado. Por muito tempo, o tema que os eleitores apontavam como o mais importante para eles era a questão da guerra do Iraque. Mas com o início da atual crise econômica, que analistas acreditam que pode levar os Estados Unidos a uma recessão, as campanhas tiveram que mudar de foco. O eleitorado latino já havia deixado clara essa necessidade: uma pesquisa feita em novembro pelo Centro Hispânico Pew, um instituto de pesquisas americano, indica que o que mais preocupava os hispânicos com direito a voto era em primeiro lugar, a economia, em segundo, a guerra. Uma das cidades em que a crise já ganha dimensões preocupantes é Detroit, onde fica a sede da GM, a maior montadora do mundo em termos de vendas. O mercado doméstico americano para as montadoras já vinha piorando nos últimos anos. O gasto com carros dos americanos, proporcionalmente ao PIB, vem caindo desde 1999. Em 2007, a GM amargou um prejuízo de US$ 38,7 bilhões e foi obrigada a lançar um plano de demissões voluntárias. A desaceleração generalizada da economia do país não oferece qualquer tipo de conforto à vista. O problema se estende para todo o Estado de Michigan, onde ficam as sedes de outras duas montadoras de peso, Chrysler e Ford. Sean McAlinden, economista-chefe e vice-presidente de pesquisas no Centro de Pesquisas Automotivas em Detroit, disse que o Estado sofreu "a mais alta taxa de desemprego nos Estados Unidos nos últimos quatro anos". Detroit é uma cidade em que a atuação de gangues de negros e latinos já é uma realidade há anos, e o temor é que o desemprego, resultado da economia em desaceleração, dê novo impulso a esses grupos. "Há pelo menos umas duas centenas de gangues latinas em Detroit. E, além delas, há as de negros", explica David Jimenez, um ex-criminoso que passou 15 anos atrás das grades e hoje trabalha na Corporação de Desenvolvimento Hispânico de Detroit. A organização sem fins lucrativos surgiu em 1997 e organiza diversos programas sociais voltados à comunidade latina de Detroit. Entre eles, há programas que visam educar jovens que sejam potenciais membros de gangues e também uma iniciativa para ajudar ex-presidiários a se integrar a sociedade e arranjar empregos. Jimenez, que foi ajudado pela própria Corporação, afirma que a atuação das gangues já tem se intensificado "por causa da economia". "Se você não tem emprego, você fica sentado na porta de casa até que uma hora você se cansa", disse. Jimenez explica que uma das principais gangues que atuam na cidade é a dos Sureños. O grupo criminoso, também conhecido como Sur 13 (13 por causa da 13a letra do alfabeto latino, o M, a primeira letra da palavra México), surgiu na Califórnia nos anos 50 e originalmente reunia mexicanos. Eles têm grande rivalidade com outra gangue formada por imigrantes do México, a dos Norteños. Jimenez explica que procura fazer com que os jovens envolvidos com gangues entendam que eles estão brigando com pessoas muito parecidas a eles mesmos, e que a sensação de poder que vem de pertencer a uma gangue é ilusória. "Perguntamos: você sabe o que sureño significa? Muitos nem sabem. Depois perguntamos: o que você sabe do México? Eles falam muita coisa. Isso faz com que eles enxerguem o que é importante", diz. Cecília Zavala, uma das diretoras da corporação, explica que um dos desafios neste momento tem sido ajudar os ex-presidiários que procuram sua organização a encontrar emprego. "Está dificil para todas as pessoas, no geral, aqui no Estado do Michigan. Imagine então para pessoas que cumpriram pena por crimes sérios", disse ela. Segundo o censo americano de 2006, a porcentagem de pessoas de Detroit abaixo da linha de pobreza era de 32,5%, enquanto a média nacional era de 13,3%. Com a intensificação da crise econômica e as dificuldades enfrentadas pelas montadoras com sede na cidade, não há porque imaginar que essa situação tenha mudado para melhor. Ou seja: para o próximo presidente, implementar um plano para reavivar a economia dos Estados Unidos começando por Detroit, poderia ser uma boa idéia. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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