ARTILHARIA PESADA
Após um começo mais focado em propostas e biografias, as campanhas de Aécio e Dilma na TV partiram para o confronto direto com Marina e os ataques à candidata do PSB e ao seu programa de governo se intensificaram.
Dilma usou artilharia pesada ao questionar na TV a capacidade de governabilidade de um eventual governo de Marina, citando os ex-presidentes Fernando Collor de Mello e Jânio Quadros, que não concluíram os mandatos, como momentos em que o país escolheu "salvadores da pátria" e "chefes do partido do eu sozinho". Jânio renunciou, e Collor sofreu impeachment. [nL1N0R31E9]
Dias depois, Aécio começou a ligar a imagem de Marina ao PT, dizendo que ela não poderia representar um projeto de mudança se tinha se mantido no partido durante o escândalo do mensalão. [nL1N0R601Z]
A TV foi uma arma eficaz para os adversários da candidata do PSB, porque dispunham de mais tempo para atacá-la. Dilma tinha 11 minutos e 24 segundos de tempo na TV, Aécio contava com 4 minutos e 35 segundos, enquanto Marina tinha apenas 2 minutos e 3 segundos.
Sob fogo cerrado, Marina passou a perder intenções de voto e, em setembro, as pesquisas registravam o estrago causado pelas campanhas de ambos.
Parte da campanha negativa contra Marina baseou-se, principalmente, no programa de governo, que desde o lançamento provocou polêmica.
Um dia após ser lançado, o programa passou por alterações no capítulo sobre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), retirando do texto original o apoio a projetos de lei e emendas à Constituição garantindo "o direito ao casamento civil igualitário na Constituição e no Código Civil".
Marina justificou a alteração por um erro de "editoração" do programa, mas o estrago estava feito. E outras propostas passaram a ser atacadas, como a de autonomia legal do Banco Central.
No fim de setembro, pesquisa Datafolha mostrava a perda de força de Marina. Dilma tinha 40 por cento das intenções de voto, enquanto a ex-senadora estava com 25 por cento, e mais próxima de Aécio, que conseguira se recuperar e chegava a 20 por cento. [nL2N0RV357]
Aécio fazia uma campanha pela "onda da razão" a poucos dias da votação, numa tentativa de baixar o tom emocional da campanha, mas a tensão dava sinais de que duraria até a apuração dos votos após o fechamento das urnas.
No sábado antes da votação no dia 5 de outubro, no entanto, o Datafolha mostrou Aécio numericamente à frente de Marina pela primeira vez. Ele tinha 26 por cento dos votos válidos, contra 24 por cento dela.
A abertura das urnas, porém, revelou uma vantagem muito maior para o tucano, que chegou a 33,6 por cento dos votos válidos, contra 21,3 por cento de Marina. Dilma teve 41,6 por cento. [nL2N0S0173]
CAMPO DE GUERRA
Passado o primeiro turno, a decisão de Marina de apoiar Aécio foi cercada de mais suspense do que se previa num primeiro momento. Mas em um evento conjunto em São Paulo, no qual deixou o tradicional coque de lado, a detentora de mais de 22 milhões de votos anunciou o apoio ao tucano.
Se os eleitores achavam que já tinham visto um festival de ataques bem maior do que nas eleições recentes, não tinham ideia do que petistas e tucanos preparavam para o segundo turno.
A radicalização da campanha em dados momentos chegou a lembrar o grau de enfrentamento ocorrido no segundo turno de 1989, disputado por Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello.
As campanhas na TV não perdoaram as biografias pessoais dos candidatos, envolveram seus parentes e as estratégias de agressão eletrônica invadiram os debates na TV entre os dois.
Nos dois primeiros encontros, na TV Bandeirantes e no SBT, Dilma e Aécio usaram o confronto direto para trocar ofensas na maior parte do tempo. [nL2N0SA090]
Nas redes sociais, onde os dois exércitos digitais e os militantes não se enfrentar diretamente no primeiro turno, a campanha se tornou rasteira, com difamações espalhadas por ambos os lados. Os dois candidatos se dizem alvos de mentiras e calúnias nesse terreno, onde não há regras.
E esse será o signo da eleição até domingo, quando, tudo indica, a decisão apertada os eleitores só deverão conhecer no final da apuração.