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ENTREVISTA-Pessimismo afeta até áreas do governo antes bem avaliadas, diz CEO do Ibope

O mau humor quase generalizado entre a população brasileira tem afetado a avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff até mesmo em áreas historicamente bem vistas pela população, disse nesta segunda-feira a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, que apontou a disputa presidencial deste ano como uma das mais incertas da história. Pesquisa Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada na quinta-feira, mostrou a presidente Dilma Rousseff ainda liderando com folga a corrida eleitoral, embora metade dos entrevistados desaprovem a maneira da presidente governar. Além disso, o levantamento apontou que 53 por cento desaprovam as políticas do governo no combate à fome e à pobreza, uma das principais bandeiras dos quase 12 anos de governos do PT na Presidência. "Combate à fome sempre foi positivo. Até no auge das manifestações de 2013, ainda assim a maioria aprovava as políticas em relação ao combate à fome. A pesquisa (CNI/Ibope) de março já mostrou um empate entre aprovação e desaprovação e essa agora (junho) mostrou uma desaprovação maior", disse Cavallari em entrevista à Reuters por telefone. "O que eu imagino que esteja acontecendo é que há um clima de pessimismo, as pessoas estão meio sem perspectivas de futuro, e isso acaba contaminando tudo." Cavallari reconheceu que a atual disputa presidencial, que tem como principais candidatos Dilma, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), tem ainda diversas variáveis imprevisíveis, o que aumenta a incerteza sobre o que deve acontecer a seguir. Entre essas variáveis, destaca-se o desejo de mudança expresso por grande parte da população. Em pleitos passados, esse sentimento seria imediatamente entendido como má notícia para a situação e boas novas para a oposição. Não agora. "As pessoas falam que querem mudar, mas muitas delas que querem mudar falam que querem mudar com a presidente no governo", disse a CEO do Ibope, indicando que todos os três principais postulantes ao Planalto têm espaço para capitalizar esse desejo de mudanças. Afinal, as sondagens não vêm mostrando Aécio e Campos ganhando espaço significativo em cima dessa insatisfação com o governo e com a maneira de Dilma governar.

Por EDUARDO SIMÕES
Atualização:

OPOSIÇÃO POUCO CONHECIDA

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Mas isso pode ser decorrente do fato de que Aécio e Campos não são, a esta altura da disputa, tão conhecidos como a presidente.

"Ainda têm uma parcela significativa de pessoas que dizem que não os conhecem suficientemente para dizer se votariam neles ou não", disse Cavallari.

Para ela, somente com o início do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV é que os dois oposicionistas se tornarão mais conhecidos e o cenário ficará mais claro.

"Independente do tempo (na propaganda de TV) que cada um tem... (é) a partir do início do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV que a exposição deles será dada de forma simultânea. Esse é o momento a partir do qual os eleitores começam a conhecer melhor os outros candidatos", disse.

"É a partir daí que a gente vai conseguir ver se eles conseguem capitalizar ou não esse desejo de mudança, se vão conseguir capitalizar essas pessoas que não estão satisfeitas com a gestão atual."

Isso deve ajudar também a reduzir o percentual de eleitores indecisos e que têm declarados nas pesquisas que votarão em branco ou anularão seus votos em 5 de outubro.

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"Eu acho que nessa eleição o índice de votos brancos e nulos vai ser um pouco maior do que o histórico", disse. "Mas não será essa quantidade tão grande que a gente está vendo agora nas pesquisas."

A CEO do Ibope apontou entre outras variáveis que devem influenciar a eleição o desempenho do Brasil na organização da Copa do Mundo, e as manifestações na rua do país, que perderam força, mas ainda acontecem.

Para Cavallari, com pouco mais de uma semana de Mundial e sem grandes problemas até agora, a Copa parece não ter impactado ainda no humor do eleitorado.

Já sobre as manifestações, ela afirma que episódios violentos durante os protestos têm tirado apoio popular desses movimentos, que não têm a mesma força que tinham em junho do ano passado.

O cenário, no entanto, ainda é nebuloso e deveria sugerir mais cautela aos portadores de bola de cristal.

"Ainda podem ocorrer mudanças, tanto para um quanto para outro candidato", disse Márcia Cavallari.

"Essa (eleição) é a que mais tem variáveis em jogo que a gente não tem conhecimento pleno sobre elas. Então isso faz, claro, que a gente, como instituto de pesquisa, veja a eleição com menos clareza."

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