Especialistas ajudam zoológicos a inseminar rinocerontes raros

Inseminação artificial é uma das soluções para salvar populações ameaçadas de extinção.

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Por Rebecca Morelle
Atualização:

Um grupo de especialistas alemães vem visitando zoológicos em todo o mundo para ensinar profissionais locais a inseminar artificialmente rinocerontes raros. Pesquisas recentes têm tentado usar células-tronco e até clonagem para salvar espécies - como o rinoceronte branco, por exemplo - seriamente ameaçadas de extinção. Mas, enquanto os cientistas se esforçam para desenvolver essas técnicas, o serviço pioneiro de inseminação oferecido pela equipe do Leibniz Institute for Zoo and Wildlife Research (IZW), na Alemanha, é tido cada vez mais como parte essencial das estratégias de conservação. Em visita ao Whipsnade Zoo, em Bedfordshire, na Inglaterra, a equipe se prepara para examinar dois rinocerontes brancos do sul. Uma variedade de equipamentos, como aparelhos de ultrassom e outros instrumentos, estão à disposição da equipe. Os especialistas Thomas Hildebrandt, Robert Hermes e Joseph Saragusty querem ajudar o casal de rinocerontes a se reproduzir. O procedimento envolve coletar o sêmen do macho e inseri-lo na fêmea. Tim Bouts, o veterinário do zoológico, explica que conceber naturalmente não é uma opção para a rinoceronte fêmea. Ela foi ferida no pé e, se um macho tentar se acasalar com ela, a fêmea pode se machucar seriamente. Bouts explica que o zoológico quer ajudar a aumentar o número de indivíduos da espécie. Em seu habitat natural, populações de rinocerontes brancos do sul vêm sendo devastadas graças a um aumento na caça ilegal. Na África do Sul, onde havia grandes concentrações dessa espécie, centenas de rinocerontes foram mortos recentemente por quadrilhas de criminosos. Os chifres dos animais são vendidos no Oriente Médio e na Ásia para a fabricação de remédios e ornamentos. Bouts diz que é essencial tentar garantir a sobrevivência de uma população saudável no cativeiro. "Não há muitos rinocerontes brancos do sul nos nossos zoológicos e, até o momento, a população ainda não é autossustentável, então cada bebê rinoceronte é muito importante", ele explica. O uso de técnicas de reprodução assistida em rinocerontes é bastante recente. O procedimento, criado pela equipe do Leibniz Institute, foi praticado pela primeira vez na Hungria, em 2006, mas está se tornando cada vez mais comum. Falando à BBC, Hermes, um dos integrantes da equipe alemã, explica que o acesso limitado aos animais fez com que o processo de pesquisa fosse demorado. "Hoje sabemos quando ocorre a ovulação, sabemos como obter o sêmen e, acima de tudo, conhecemos a anatomia e os instrumentos necessários para fazer uma inseminação, o que é muito específico no caso dos rinocerontes." 'Eletro-ejaculador' O procedimento no Whipsnade Zoo demora algumas horas. Primeiro, o macho é anestesiado e, após várias checagens, a equipe insere um "eletro-ejaculador" no ânus do rinoceronte. O aparelho produz um choque elétrico que leva o animal a produzir sêmen. O líquido é coletado pelos especialistas. Em um microscópio, a equipe analisa o sêmen para ter certeza de que ele é saudável. Nesse ponto, a fêmea, que foi tratada com hormônios para ovular naquele exato período, também é sedada. Usando um aparelho ultrassom em 3D, a equipe examina os órgãos reprodutores da fêmea. No momento certo, o sêmen é injetado com o uso de uma sonda. Além de aperfeiçoar esse método, a equipe alemã levou a reprodução assistida de rinocerontes ainda mais longe: os especialistas usaram sêmen congelado na inseminação. No zoológico de Western Plains, na Austrália, a equipe criou um embrião de rinoceronte usando fertilização in vitro (FIV), embora o embrião não tenha sido implantado em uma fêmea. Em outros países, cientistas tentam criar outros métodos para tentar salvar espécies de rinocerontes da extinção. Um artigo publicado recentemente na revista científica Nature Methods relatou que cientistas estão cultivando células-tronco de rinocerontes brancos do norte - a espécie mais ameaçada de rinocerontes do mundo, com apenas sete indivíduos ainda vivos. Os pesquisadores dizem que um dia essas células podem ser transformadas em células de espermatozoides e de óvulos para salvar a espécie da extinção. Clonagem Outros projetos, como o Ibream, investigam a possibilidade de clonar rinocerontes, um recurso extremo à medida que as populações da espécie diminuem dramaticamente. Mas ainda levará muito tempo para que essas pesquisas produzam resultados concretos. Por isso, a inseminação artificial é vista hoje como um recurso importante na luta para preservar as espécies. No zoológico em Bedford, o procedimento de inseminação foi concluído. O efeito da anestesia vai passando, e os rinocerontes estão acordando aos poucos. Resta à equipe aguardar, cheia de expectativa, os resultados. Nas próximas semanas, os hormônios da fêmea serão monitorados para que os especialistas descubram se ela de fato engravidou. Se o resultado for positivo, dentro de 16 meses os pesquisadores vão saber se conseguiram adicionar mais um rinoceronte branco à pequena população que habita o planeta. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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