Ex-craque africano torna-se refugiado na África do Sul

Mulamba era a maior promessa do Zaire na Copa de 74.

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Por Andrew Harding
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Um grande herói do futebol africano na década de 1970 foi pego pelo turbilhão que se abateu sobre a República Democrática do Congo, antigo Zaire, e tornou-se um refugiado na África do Sul. Em 1974, Ndaye Mulamba era a maior promessa do Zaire, primeiro país da África subsaariana que se classificou para uma Copa do Mundo, no Mundial da Alemanha. Naquele mesmo ano, no Egito, ele havia instituído o recorde que perdura até hoje ao marcar nove gols na Copa da África. Mas as coisas começaram a dar errado para ele em meados da década de 90 quando o Zaire foi engolfado por uma guerra civil e mudou de nome. Soldados tentando extorquir o antigo herói nacional lhe alvejaram a perna. Mulamba ainda leva as balas consigo. Para salvar a vida, o ex-atacante diz ter fugido do país para a África do Sul sozinho e sem pertences, primeiro para Johanesburgo, depois Cidade do Cabo. "Não tinha família nem dinheiro. Só pensava em como conseguir comida. Me senti abandonado", diz ele, que mal domina o inglês, idioma falado na nação mas não em seu país de origem, que adota o francês. Copa de 74 Passei o dia na semana passada com Ndaye e ouvi como ele foi tirado das ruas por uma família sul-africana e como agora dirige pequenos times amadores locais. E que casou-se com uma sul-africana. "É como um círculo", diz ele em francês, caçando a frase certa para explicar sua tortuosa jornada de vida. "Mas agora estou feliz porque a Copa do Mundo finalmente veio à África." O ex-goleador não recebeu ingressos para os jogos e planeja assisti-los "na TV, como todo mundo". Ele afirma que a federação de futebol da República Democrática do Congo não lhe presta auxílio, limitando-se a dizer com um grunhido que "há problemas por lá". Falamos sobre a Copa de 74. Mulamba não jogou contra o Brasil (vitória brasileira por 3x0), a última partida do país em um Mundial, por ter sido expulso no jogo anterior, derrota por 9x0 para a Iugoslávia. Ele diz que antes do jogo, cada jogador iria receber US$ 45 mil mas na véspera do jogo, um integrante da deleção fugiu com o dinheiro. "Decidimos então não jogar", diz ele para explicar o placar elástico. Quando lhe pergunto se esta não seria não seria uma atitude pouco patriótica, ele diz que "obviamente, tudo tem a ver com dinheiro". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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