Governo teme se expor em disputa com Cunha na sucessão do comando da Câmara

Ainda no papel de espectador dos movimentos do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), para chegar à Presidência da Câmara dos Deputados, o governo teme se expor em uma disputa pública com o parlamentar, considerado desafeto político do Palácio do Planalto, mas deve agir fora dos bastidores a partir da próxima semana. Cunha esteve diversas vezes em campos opostos ao governo em votações na Câmara e está construindo sua candidatura à revelia da cúpula do PMDB. Nessas negociações já arregimentou o apoio da sua bancada, de alguns partidos aliados, como PR e Solidariedade, e até mesmo de legendas de oposição. Uma alta fonte do governo afirmou à Reuters nesta quarta-feira que o governo está preocupado com o avanço da candidatura de Cunha, mas que por enquanto seria arriscado fazer uma estratégia de confronto. "Não queremos falar nada sobre Eduardo Cunha agora", disse a fonte à Reuters sob condição de anonimato. "Nós definimos uma política em que, no primeiro momento, o governo não vai agir publicamente em relação à sucessão na Câmara", explicou a fonte. Mas a inércia do governo pode estar dando cada vez mais fôlego a Cunha, que atua com desenvoltura no Congresso e tem dito nas reuniões em que busca apoio dos seus pares que não aceitará imposições da presidente Dilma Rousseff e que a Casa terá pauta própria, caso ele chegue à Presidência. No PT, há incomodados com a falta de uma estratégia de resistência a Cunha. E há outros que apostam que os movimentos do peemedebista, antecipando acordos com bancadas que serão modificadas na próxima Legislatura com a chegada de novos deputados, podem dar errado.

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Por JEFERSON RIBEIRO
Atualização:

OPINIÕES CONSOLIDADAS

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Segundo essa fonte, entretanto, a partir da próxima semana PT e governo passarão a mexer suas peças no tabuleiro da sucessão na Câmara. A eleição para presidente da Casa só ocorrerá em fevereiro de 2015, quando os novos deputados tomam posse.

"Acho que até o dia 12 tanto o governo quanto o PT vão ter opiniões sobre isso. Opiniões mais consolidadas (sobre a sucessão)", afirmou a fonte.

"Temos que ouvir os partidos da base e tentar montar um cenário para trabalhar", acrescentou.

PMDB e PT, que a partir de 2015 contará com a maior bancada na Casa, mantinham um acordo que previa rodízio no comando da Câmara. Com base nisso, seria a vez do PT apontar um candidato com apoio dos peemedebistas.

Na bancada do PT, no entanto, cresce o movimento daqueles que acreditam que será mais fácil derrotar Cunha apoiando uma candidatura de um dos partidos aliados e não de um petista.

Essa fonte disse, entretanto, que a tendência é que haja uma candidatura do PT, mas que essa decisão ainda será tomada a partir da próxima semana.

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Nesta quarta, após uma reunião do conselho político do PMDB para debater a reforma política, o presidente do PMDB da Bahia, Geddel Vieira Lima, um dos caciques do partido, disse que o governo deveria evitar o confronto com Cunha e fazer uma aliança.

"O governo deveria negociar com Cunha para fazer uma aliança e poderia ganhar com isso", disse.

Segundo ele, o presidente nacional do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, não tem como impedir ou interromper a construção da candidatura de Cunha para assumir a Câmara.

Temer e Cunha têm péssimas relações, que durante a campanha eleitoral se deterioram. O deputado capitaneou o movimento para tentar impedir a renovação da aliança do PMDB com o PT pela reeleição de Dilma.

"O Michel não tem o que fazer. Como ele vai se posicionar contra uma candidatura de um deputado do partido", disse Geddel a jornalistas.

(Reportagem adicional de Anthony Boadle)

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