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Hospital das Clínicas testa cirurgia de redução de estômago contra diabete

Um dos procedimentos usados será a polêmica técnica criada pelo médico goiano Áureo Ludovico de Paula, que foi aplicada no apresentador Faustão e deixou cerca de dez pacientes com sequelas graves. Especialistas divergem sobre segurança do método

Por Fernanda Bassette E Karina Toledo
Atualização:

O Hospital das Clínicas da USP vai testar dois tipos de cirurgias de redução de estômago em pacientes com diabete tipo 2 que tenham índice de massa corporal (IMC) entre 27 e 35 - considerado sobrepeso e não obesidade mórbida. Uma das cirurgias é a polêmica gastrectomia vertical com interposição de íleo - criada pelo médico goiano Áureo Ludovico de Paula e usada no apresentador Fausto Silva.De Paula, proibido pela Justiça de operar usando o método, realizou cirurgias com essa técnica sem informar aos pacientes que ela era experimental, sem ter aberto protocolo de pesquisa e cobrando caro pelo procedimento - cerca de R$ 28 mil. Ao menos dez pacientes tiveram complicações graves, segundo o Ministério Público Federal.No HC, há um protocolo de pesquisa aprovado pelo comitê de ética do hospital e a técnica será feita gratuitamente. Além da gastrectomia, os médicos também vão testar o by-pass gástrico (mais informações nesta página), amplamente reconhecido e indicado para a maioria dos pacientes obesos.Com isso, a equipe do HC quer demonstrar que diabéticos não obesos, com IMC entre 27 e 35, podem se beneficiar e até se curar da doença. Hoje em dia, o consenso da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) recomenda a cirurgia de redução de estômago apenas no tratamento de doentes com IMC maior que 35.A primeira cirurgia será feita na próxima semana. O paciente é um homem de 55 anos, com IMC 32 e diabético tipo 2 há 13 anos. Teve dois infartos e será submetido à técnica do by-pass gástrico. Ao todo, serão realizadas 40 cirurgias - 20 com cada método. A expectativa é que elas sejam feitas em até dois anos. Segundo Marco Aurélio Santo, responsável pela pesquisa, pelo menos um terço dos diabéticos tipo 2 tem IMC entre 30 e 35. "Queremos diminuir a medicação e as complicações provocadas pela doença nesse grupo." Márcio Mancini, responsável pelo grupo de obesidade do HC, diz que a redução de estômago tem se mostrado eficaz na remissão e até na cura da doença. Ele diz que a remissão total ocorre em cerca de 85% dos casos. "Por que aquele diabético que não é gordo e não responde bem ao tratamento com medicamentos não pode se beneficiar?", diz.O endocrinologista Alfredo Halpern, um dos responsáveis pelo protocolo do HC, diz que qualquer diabético pode se candidatar à cirurgia, mesmo que não tenha comorbidades associadas (como obesidade ou hipertensão). A única exigência é que o paciente tenha o pâncreas capaz de produzir insulina. "Quando a função está prejudicada, o problema não será resolvido com uma cirurgia."Para Halpern, a polêmica envolvendo a gastrectomia com interposição de íleo existe porque De Paula não submeteu os pacientes a um protocolo de pesquisa. "Ninguém discute a eficácia da cirurgia. O mundo está caminhando para soluções cirúrgicas pessoas diabéticas com IMC menores ", diz.Consenso mantido. Luís Alberto Turatti, vice-presidente eleito da Sociedade Brasileira de Diabete, afirma que as recomendações cirúrgicas para diabéticos continuam as mesmas - apenas para pessoas com IMC maior que 35. Diz ainda que há muitas drogas que tratam a doença e a cirurgia deve ser exceção."Sou bastante reticente e temeroso em indicar a técnica para pessoas com IMC acima de 27. Daqui a pouco teremos de operar todo mundo", diz. Carlos Vital, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, afirma que a entidade vê a pesquisa com naturalidade, já que foi aprovada pelo comitê de ética. "Mas, para ser reconhecida pelo CFM, são necessárias mais evidências", afirma.Ricardo Cohen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, também aprova a iniciativa. "Acho fundamental comparar a interposição ileal com uma técnica já consagrada para descobrir se ela serve para alguma coisa. É uma técnica mais complexa e, por enquanto, os resultados têm sido parecidos", afirma.

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