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Jornais pedem renúncia de chefe da polícia no caso Jean Charles

Para jornais, comissário-chefe Ian Blair perdeu capacidade de liderar Scotland Yard.

Por BBC Brasil
Atualização:

Jornais britânicos pedem nesta sexta-feira a renúncia do chefe da polícia londrina, depois que um júri condenou a instituição no episódio que levou à morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, em julho de 2005. Em editorial intitulado "O veredicto", o The Times é assertivo: "Blair não é o homem certo para liderar a Polícia Metropolitana", diz o jornal, em referência ao comissário da Scotland Yard, Ian Blair, que se recusa a renunciar apesar da forte pressão da mídia e de setores da oposição desde o episódio. Como outros veículos da imprensa britânica, o diário reconhece que polícia vivia circunstâncias extraordinárias no dia da morte de Jean Charles - lutava para evitar atentados terroristas uma semana após ataques que mataram 52 pessoas na cidade. Entretanto, diz o artigo, "o catálogo de erros é significativo". "A realidade é que se essa tragédia é um incidente isolado para a Polícia Metropolitana, não é um erro isolado para Ian Blair. Ele não é o homem correto para delinear uma nova estratégia de contra-terrorismo." Para o jornal, Blair deveria abrir mão do cargo: "É do melhor interesse da Polícia que ele faça a coisa mais honrosa". Outros editoriais publicados na imprensa britânica também defendem, por argumentações diferentes, a renúncia do comissário. Incisivo, o jornal The Independent diz que a falha da polícia no caso foi "devastadora", e que o julgamento contra a corporação foi "condenatório". O jornal questiona o ponto de vista de Ian Blair, para quem as falhas apontadas pela acusação não foram sistêmicas, já que as circunstâncias eram incomuns. "Perdão por discordar. A morte de Menezes foi resultado de uma ampla falha sistêmica. Claro, as circunstâncias eram sem precedentes e a atmosfera estava carregada, mas é nestes momentos que os serviços de emergência são testados." Para o Independent, o que está em jogo é a "capacidade de liderança" de Ian Blair: "sua posição é insustentável". O Guardian tentou desfazer o que chamou de "ar de banalidade" no julgamento da Scotland Yard, conduzido com base apenas na legislação de segurança e saúde do público. "A Polícia Metropolitana falhou coletivamente, mas a ausência de erros individuais não isenta seu chefe de responsabilidade". "(Ian Blair) tem sido um comissário de polícia polêmico e ativista, que trouxe valores progressivos e entendimento moderno de seu trabalho. Mas é preciso perguntar se ele está em uma posição de sustentar as reformas que ele tem realizado. Mesmo aqueles que concordam com seus objetivos na Polícia de Londres, como este jornal, reconhecem que Ian Blair já não está em uma posição de colocá-los em ação". Já o Daily Telegraph discorda dos clamores pela renúncia de Ian Blair, afirmando que estes são "inúteis". "Isto seria subestimar as qualidades políticas de Ian Blair. No período de uma hora após o veredicto, tanto a Autoridade da Polícia Metropolitana quanto, mais pertinente, a ministra do Interior, Jacqui Smith, expressaram sua 'total confiança' no comissário, que, em troca, prometeu 'tirar lições' do caso", observa o diário. "Este é um problema para ele e sua consciência. Mas a família de Menezes tem todo o direito de questionar um sistema que, após mais de dois anos gastando uma enorme quantia de dinheiro público, não responsabiliza ninguém pela morte de um homem inocente." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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