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Jornal, e não treinador de Lavillenie, atribuiu vitória de Thiago Braz a candomblé

Francês manteve críticas à postura do público no Engenhão, que vaiou rivais do brasileiro 

Por Andrei Netto e correspondente em Paris
Atualização:

Derrotado pelo brasileiro Thiago Braz da Silva na disputa pela medalha de ouro no salto com vara na noite de segunda-feira, o francês Renaud Lavillenie e seu treinador, Philippe d’Encausse, criticaram de forma impiedosa as vaias da torcida presente no estádio contra os rivais estrangeiros que disputavam a prova. Inconformado com o que considerou falta de "fair play" do público nas arquibancadas do Engenhão, o saltador chegou a comparar os Jogos Olímpicos do Rio aos realizados pela Alemanha nazista em 1936.

As críticas começaram antes mesmo da derrota. Em uma das imagens emblemáticas da final, Lavillenie apareceu frente à câmera pedindo silêncio e reprovando a postura da torcida no momento em que se concentrava para tentar se manter na disputa pelo ouro. Segundo o francês, a final corria bem enquanto a disputa não havia ultrapassado a barreira dos 5,85 metros. Mas uma vez que Silva também superou a barreira, todos os competidores passaram a sofrer vaias do público, desestabilizando a concentração dos atletas, supostamente em benefício do brasileiro. 

Francês Renaud Lavillenie erra salto na final da olimpíada do Rio Foto: Franck Fife/AFP

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"Essas vaias mostram que os espectadores não tiveram nenhum respeito pelos valores olímpicos", disparou, elogiando seu rival. "Thiago foi incrível. Não tenho nada a dizer a respeito dele." Mais tarde, ainda muito decepcionado, Lavillenie lamentou à imprensa francesa a prática das vaias pelo público no Rio. "Não foi a primeira vez que me vaiaram. Além da dificuldade e do cansaço, não precisamos de mais isso. É muito perturbador e irritante, porque você sente a maldade do público. O atletismo não é o futebol. Se for para vaiar, que fiquem em casa em frente à televisão", disparou. 

Então Lavillenie fez a comparação com a Alemanha de Adolf Hitler. "Em 1936, a torcida estava contra Jesse Owens. Não tínhamos visto isso desde então." Minutos depois, o próprio atleta pediu desculpas pelo Twitter pelas declarações sobre o nazismo, embora tenha mantido as críticas sobre a postura dos torcedores brasileiros. "Perdão pela má comparação que eu fiz. Foi uma reação no calor da situação e eu compreendo agora que foi errado", reconheceu. "Desculpas a todos."

Na mesma linha de reprovação ao público dos estádios, Philippe d'Encausse, o treinador do atleta francês - que havia vencido a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e é o atual detentor do recorde mundial e ex-recorde olímpico -, mostrou-se admirado com a performance de Thiago Silva, que as 22 anos bateu o recorde da competição. "Quando ele já tinha o peso de 10 saltos nas pernas, Thiago chegou e saltou 6,03m", disse ele. "É um país bizarro", completou, falando do Brasil e comentando as vaias. 

A frase foi utilizada pelo jornal Le Monde, cujo jornalista atribuiu a performance do brasileiro ao candomblé. Mal interpretada, a declaração acabou atribuída ao treinador francês, o que aumentou polêmica sobre o assunto ontem.

Na imprensa francesa, o resultado do salto com vara repercutiu com misto de surpresa e de imensa decepção, porque Lavillenie era tido como franco-favorito à medalha de ouro. Narradores e comentaristas em canais de TV como a rede pública France Télévisions também lamentaram as condições climáticas adversas da final. Além da chuva, o vento forte e o atraso nos saltos teriam prejudicado a competição.

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Já o jornal Le Monde ressaltou a performance do brasileiro, que se tornou "o sétimo atleta com mais alto salto de todos os tempos". 

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