Médico brasileiro ajuda a revolucionar diagnóstico cardíaco nos EUA

Chefe de radiologia de um renomado centro médico na Flórida, Dr. Ricardo Cury comanda uma equipe de 70 médicos especializados

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colunista convidado
Por Chris Delboni
Atualização:

Aos 23 anos, Ricardo Cury passou três meses na Universidade de Miami, num intercâmbio de medicina, durante seu último ano na Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Ele retornou ao Brasil para concluir os estudos, mas gostou tanto que decidiu voltar aos Estados Unidos para fazer especialização em radiologia cardíaca. "Percebi que era uma medicina de ponta na área de imagem e radiologia e, na época, a imagem cardíaca, tomografia e ressonância cardíaca estavam bem no começo", diz. Preparou-se, fez as provas para validar o diploma nos Estados Unidos e quando terminou a residência na Beneficência Portuguesa de São Paulo, foi aceito para um "fellowship" na Faculdade de Medicina da Harvard, em Boston, uma das mais concorridas.

Tinha 26 anos e recém-casado com a colega Ana Cecilia, geriatra, com quem hoje tem dois filhos: Ana Beatriz, 9, e Ricardo, 7. "Eu era o mais jovem do grupo", conta."Os primeiros meses foram os mais difíceis,pela solidão, uma mudança completa, e naquela época não tinha Skype, WhatsApp.Era muito mais distante, você sentia muito mais."

Dr. Ricardo Cury com o tomógrafo mais avançado do mundo Foto: Divulgação

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Mas foi se adaptando e se superando - e hoje, aos 38 anos, Dr. Ricardo Cury é chefe de radiologia do Departamento de Diagnóstico por Imagem do Baptist Health of South Florida e do grupo Radiology Associates of South Florida, que presta serviços a todos os centros médicos do Baptist.Ele tem 70 médicos sob seu comando, em cinco grandes hospitais da região e 15 centros de diagnósticos por imagens.

Sua carreira começou em Harvard e no Massachusetts General Hospital, onde participou de pesquisas de novos métodos para um diagnostico mais rápido e preciso de doenças cardíacas, passando dos estudos à clinica.Como um pioneirona área, foi contratado como radiologista do hospital e professor assistente da faculdade."Estava na hora certa, no lugar certo, quando estava tudo começando", diz. De lá, recebeu o encargo de trazer ao Baptist esses novos conceitos na radiologia cardíaca e aplicar os estudos para a fase clínica. Na chefia há quatro anos, Dr. Ricardo diz que gerenciar esse grande grupo de médicos de forma eficiente e eficaz talvez tenha sido até hoje seu maior desafio . "Como gerir um grupo grande de pessoas e mantê-las com o mesmo objetivo de aprimorar a qualidade, avançar a ciência e melhorar a saúde das pessoas?", pergunta-se. Mas está conseguindo - e o mais importante, criando uma cultura muito valorizada no seu hospital, conhecida por "high tech, high touch". "É um termo que a gente usa bastante no Baptist Health of South Florida -tenta-se fornecer alta tecnologia mas com atenção e cuidado ao paciente", diz. "Como brasileiro é uma coisa natural para mim. Mas é uma coisa que não é comum na medicina nos EUA - que acaba sendo bastante 'high tech' [alta tecnologia] - mas falta o 'high touch' [toque humano].Não basta apenas fazer o exame."

Ricardo Cury com os filhos Ana Beatriz, 9, e Ricardo, 7, em sua casa em Miami Foto: Chris Delboni/Estadão

Conheça o segredo do sucesso do Dr. Ricardo Cury, chefe de radiologia de um grande hospital em Miami. Por Chris Delboni. from Chris Delboni on Vimeo.

Segundo novos estudos científicos que ele também irá discutir no encontro em São Paulo, a angiotomografia de coronárias consegue reduzir em 38 % o infarto e mortes por doenças cardiovasculares.

"Com exames avançados mas não invasivos, conseguimos detectar a doença coronária de uma forma precoce e modificar o curso natural da doença, através da diminuição de fatores de risco, orientação de dieta, medicamentos e em casos específicos de intervenção - então a gente obtém um diagnóstico mais preciso que não tinha antes", diz.

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Mas apesar da paixão por tecnologia desde pequeno, o radiologista acredita que o segredo do sucesso da medicina no futuro é "a atenção e o foco no paciente", diz.

"A cultura médica americana está mudando e cada vez mais baseada na medicina centrada no paciente- porque hoje a informação está disponível na internet, em qualquer lugar, as pessoas estão mais esclarecidas, então se o foco não for o paciente, ele vai para outro médico ou outro hospital".

Twitter @chrisdelboni

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