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MIS do Rio festeja meio século com mais de 300 mil documentos sobre a música brasileira

Novo prédio, em Copacabana, tem previsão para junho de 2016

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Nos últimos 50 anos, o Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio vem guardando um patrimônio único no País em seus dois prédios no centro da cidade. Nele estão as partituras originais de clássicos como Três Apitos, de Noel Rosa (1933), Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso (1938), e Copacabana, de Braguinha e Alberto Ribeiro (1946). O boletim da estudante Nara Lofêgo Leão, aos 15 anos, que mostra que a futura musa da bossa nova era então uma aluna “regular” do Colégio Mello e Sousa, de média 6,9. A certidão do casamento de Dorival Caymmi com Stella Maris, de 1940, do qual foram testemunhas Jorge Amado e Samuel Wainer. O piano de Ernesto Nazareth, o sax de Pixinguinha, o bandolim do Jacob. E mais 300 mil documentos que contam muitos capítulos da história da música brasileira, como fotos, textos e fitas de áudio e vídeo, 60 mil discos e 18 mil gravações de programas e novelas da Rádio Nacional.

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No cinquentenário do MIS, esse acervo é parte importante da celebração. Ano que vem, o conjunto deixará de ser um tesouro acessível apenas a pesquisadores: vai ser divulgado no novo e moderno edifício de oito pavimentos da instituição, que está sendo finalizado na Praia de Copacabana. Setorizado em temas como humor, carnaval, rádio, cinema, paisagens cariocas e samba, com um espaço especial para Carmen Miranda, o passado será disposto de forma tecnológica. “Até agora, o MIS foi mais centro de documentação do que museu. Agora vamos apresentar o acervo de forma moderna, para atrair os jovens”, conta a presidente do museu, Rosa Maria Araujo.

Ainda não há data para a abertura, mas a meta atual é junho de 2016, dois meses antes dos Jogos Olímpicos no Rio. A obra, que deve custar R$ 100 milhões, começou em 2010 e já sofreu vários adiamentos. A última estimativa era para este semestre (a data dos 50 anos chegou a ser cogitada). A alta do dólar atrapalhou, segundo a secretária estadual de Cultura, Eva Doris Rosental. “Quando começou a obra, o dólar estava R$ 2 (na terça, era cotado a R$ 3,70). Muitos equipamentos, como projetores e telas de cinema, são importados. Mas isso não vai atingir em nada; é um momento muito feliz”, disse a secretária, que aposta no MIS como grande atração turística dos jogos.

Fachada do Museu de Imagem e Som do Rio (MIS), o primeiro do gênero no Brasil, que está fazendo 50 anos. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

O MIS do Rio foi o primeiro do gênero no País. Conforme listagem do Conselho Internacional de Museus (Icom), a modalidade “imagem e som” só existe no Brasil: há os museus de áreas como cinema e fotografia, e também os dedicados à música. O do Rio foi fundado em 3 de setembro de 1965 para “documentar em som e imagem o esforço do homem brasileiro, do homem carioca, dos homens de todas as nações, que para aqui vieram convergentes formar, ampliar, reformar, desenvolver (...) a gloriosa e valorosa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”, como discursou o então governador Carlos Lacerda, que o criou, nos festejos do quarto centenário da cidade.

Capital brasileira por 200 anos, o Rio acabou por concentrar boa parte dos registros da trajetória dos movimentos culturais, do cinema, da TV e do rádio, sendo a música uma vocação primordial. Daí veio a tônica do MIS carioca – cada um dos 27 museus do gênero abertos no Brasil tem sua linha; o de São Paulo, por exemplo, fundado em 1970 e o mais visitado da cidade em 2014, sempre tendeu mais ao audiovisual. 

As primeiras coleções incorporadas foram as das imagens de Augusto Malta, destacado fotógrafo da virada do século 19 para o 20, e as dos programas de rádio do cantor e pesquisador musical Almirante. De lá para cá, famílias de artistas ou eles próprios vêm enriquecendo o acervo – casos recentes foram os do jornalista Nelson Motta e dos filhos de Dorival Caymmi – e 1.100 personalidades deram seus depoimentos para a posteridade, entre elas, pilares da cultura brasileira, como Guimarães Rosa e Tom Jobim.

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