Momentos Olímpicos: Após 'ruína', vitória por 1 cm deu 'dia mágico' a Maurren Maggi

Saltadora relembra sua vitória em Pequim 2008, a primeira medalha de uma mulher brasileira em provas olímpicas individuais.

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Por Paula Adamo Idoeta
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Por apenas um centímetro, a atleta Maurren Higa Maggi e o atletismo brasileiro tiveram um "dia mágico" em 22 de agosto de 2008, quando a brasileira conquistou o ouro na prova de salto em distância nas Olimpíadas de Pequim, com a marca de 7,04 m. O salto de Maurren foi obtido logo na primeira tentativa. Depois, ela esperou a russa Tatiana Lebedeva saltar seis vezes para tentar, sem sucesso, superar a marca - a adversária chegou apenas a 7,03 m. "A memória mais forte que tenho daquele dia é de quando vi o placar e que (Lebedeva) tinha saltado 1 cm a menos. Foi o momento mais importante da minha vida", relembra Maurren em entrevista à BBC Brasil. "Não conseguia acreditar. Depois, só me lembro de ficar andando em círculos." "Foi um dia mágico. Eu estava muito bem, ansiosa para competir", prossegue. "As pessoas ao meu redor perceberam isso, alguns me disseram que estava escrito na minha testa que eu ia ganhar." Esse dia de pódio e glórias, porém, foi precedido de dois anos e meio parada e do abandono da vida esportiva. Em 2003, ano em que Maurren despontava como uma das principais esperanças de medalhas para o Brasil, a atleta foi pega num exame de doping realizado fora de competição. O exame identificou no corpo da atleta a substância clotebol, vetada por produzir um aumento de força muscular. Maurren culpou uma pomada cicatrizante usada após uma sessão de depilação. Questionada se o sonho de uma medalha olímpica havia sido arruinado naquele momento, Maurren disse: "Não só o sonho da medalha. Tudo tinha sido arruinado". Maurren foi suspensa por dois anos e chegou a desistir da carreira atlética. Retomada A vontade de voltar ao esporte surgiu quando a filha da atleta, Sofia (atualmente com sete anos), completou seu primeiro ano de vida. A rotina de treinos foi dura. Depois de dois anos parada e de uma gravidez, "o corpo não respondia". Em compensação, ela diz que estava determinada a voltar a ser competitiva. "O principal está na cabeça, tem que se concentrar e ter uma meta." Ela retomou a rotina de competições em 2006 e, no ano seguinte, foi ouro no Pan-Americano. Depois veio Pequim-2008, com o salto que deu ao Brasil a primeira medalha de ouro feminina em uma prova individual. Foi também o primeiro ouro do atletismo em 24 anos - o anterior fora de Joaquim Cruz, na prova de 800 m dos Jogos de Los Angeles-1984. A volta por cima é difícil de explicar, diz a atleta. "Não é só uma questão de treinar. Muito é (resultado de) querer de volta o que haviam tirado de mim. Mas nunca senti que tinha que provar nada para ninguém. Era algo pessoal." Futuro Aos 37 anos, a paulista de São Carlos treina pelo São Paulo FC (com quem tem contrato até janeiro) e se prepara para tentar a sorte - e o bi - nos Jogos de Londres-2012. Em maio, Maurren venceu o GP Internacional de Atletismo, em São Paulo, com um salto de 6,85 m - marca que a deixa entre as melhores no ranking da temporada, mas ainda longe do salto da americana Brittney Reese, de 7,12 m. Questionada se Reese é sua maior adversária, ela diz pensar isso de "todas que estão na competição comigo". Agora, superadas uma cirurgia no joelho e lesões, ela se diz determinada a tentar um salto acima dos 7 metros em Londres, sem no entanto se preocupar em superar as marcas de Pequim, mas sim de "saltar o meu máximo". "Talvez Pequim tenha sido a maior prova da minha vida, mas encaro todas as provas assim", afirma. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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