Montadoras sofrem freada brusca em novembro no Brasil

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Por ALBERTO ALERIGI JR.
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As montadoras instaladas no Brasil pisaram forte no freio em novembro, sofrendo uma queda de mais de 30 por cento na produção e vendo os estoques de veículos em pátios de fábricas e lojas chegar a quase dois meses de vendas. A freada também obrigou o setor a rever para baixo projeções de desempenho no ano. Quarto mês consecutivo de queda na produção, novembro também marcou o segundo mês seguido de redução nas vendas, afetado por uma crise de crédito global cujos impactos no país estão chegando mais rápido do que as montadoras previam. A queda na atividade aliada ao volume cada vez maior de veículos em estoque fez montadoras como a General Motors anteciparem férias coletivas de fim de ano para milhares de funcionários além de ter causado o fechamento de 480 postos de trabalho entre outubro e novembro. "(A queda nas vendas) foi além da nossa expectativa. A crise chegou mais rápido do que imaginávamos", afirmou a jornalistas o presidente da associação que representa as montadoras instaladas no país, Anfavea, Jackson Schneider. O baque foi sentido também no nível de estoques de veículos não vendidos, que de outubro para novembro passou de 38 para 56 dias de vendas, algo equivalente a 305,6 mil unidades. Mas evitando falar em demissões, ele afirmou que o setor vive um momento de otimismo cauteloso com relação a dezembro e os primeiros meses de 2009 por conta da circulação de linhas de crédito de bancos estatais para financeiras de montadoras que facilitam o parcelamento de carros novos para os consumidores, bem como pagamentos de 13o salário. Além disso, as vendas nos últimos dias de novembro "mostraram uma retomada importante no varejo", mas Schneider não deu detalhes sobre isso. "Não falamos hoje em demissões. Não se especula sobre o trabalho de pai de família, mas claro que temos uma preocupação quanto a isso", afirmou Schneider afirmando que a indústria por enquanto tem conseguido se ajustar à demanda fraca via mecanismos como férias coletivas. "A indústria não quer demitir, a última coisa que ela quer fazer é demitir porque isso significa afetar seu próprio consumidor. Mas não se produz para expor veículo em showroom. Se produz para vender." NÚMEROS Entre outubro e novembro, as vendas de veículos caíram 25,7 por cento, para 177,8 mil unidades, enquanto a produção despencou 34,4 por cento, para 194,9 mil unidades. A produção no mês passado também foi impactada por queda nas exportações, que caíram 28,4 por cento em novembro sobre outubro, para 49.156 unidades. Em valores, houve uma retração de 23,1 por cento, para 1 bilhão de dólares. Diante da mudança no desempenho do setor que até setembro vinha acelerando o passo, a Anfavea cortou sua previsão de alta nas vendas de veículos novos em 2008 sobre o ano passado de 24,2 para 14,3 por cento, para 2,815 milhões de unidades. A projeção para a alta da produção caiu de 15 para 8,8 por cento, para 3,24 milhões de unidades. Números sobre 2009 somente serão divulgados pela entidade no próximo mês. "O ano de 2009 é uma incógnita... Todos estamos esperando que o primeiro trimestre tenha um ritmo de vendas melhor", afirmou Schneider, ressaltando que apesar do desempenho fraco dos últimos meses, 2008 ainda será um ano de recorde em vendas e produção para a indústria. Desde 2002, as vendas de veículos do país crescem a uma média de 10 por cento ao ano, disse ele. O presidente da Anfavea informou que os investimentos anunciados por montadoras para os próximos três anos, da ordem de 23 bilhões de dólares, "ainda estão mantidos pelas conversas que tenho com as empresas. O Brasil tem condições estruturais de ter um bom mercado interno pois temos 8,7 habitantes por veículo hoje". As vendas de novembro foram lideradas pela Fiat, com 40.764 automóveis e comerciais leves comercializados, queda de 23,6 por cento sobre outubro. Volkswagen teve vendas de 37.466, recuo de 23,8 por cento na mesma comparação. General Motors vendeu 29.702 veículos, baixa de 32,5 por cento e Ford registrou vendas de 15.943 unidades, uma queda de 29,4 por cento. (Edição de Vanessa Stelzer)

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