Mossad é pressionado a rever prioridades

Agência de inteligência é acusada de perseguir ''inimigo errado''

PUBLICIDADE

Por LONDRES e The Guardian
Atualização:

Em novembro, uma mulher israelense com visão aguda chamada Niva Ben-Harush ficou alarmada ao notar um jovem prendendo alguma coisa que lhe pareceu suspeita, como uma bomba, embaixo de um carro numa rua calma perto do porto em Tel-Aviv. Quando a polícia o deteve, ele alegou ser um agente do serviço secreto, Mossad, participando de um exercício de treinamento: a história era verdadeira, embora a bomba fosse falsa.O "terrorista" trapalhão foi apenas um breve item no noticiário noturno local. Houve, porém, uma história muito maior há dois anos, quando uma bomba explodiu num jipe em Damasco e decapitou Imad Mughniyeh, o líder militar do grupo xiita libanês Hezbollah procurado por EUA, França e outros países.Israel nunca foi além de piscadelas e acenos enigmáticos de aprovação sobre esse assassinato no coração da capital síria, mas há amplas suspeitas de que essa foi uma de suas mais ousadas e sofisticadas operações clandestinas.O Mossad, como outros serviços de inteligência, costuma atrair atenção só quando alguma coisa dá errado, ou quando ele alardeia um sucesso espetacular e quer enviar um sinal de alerta a seus inimigos. O assassinato no mês passado de Mahmoud al-Mabhouh, uma figura importante do Hamas em Dubai, é uma curiosa mistura de ambos.As imagens de Dubai seguem a prescrição bíblica (e o velho lema do Mossad): "Por meio de fraudes, farás a guerra." O trabalho da agência é coletar informações, analisar dados de inteligência e realizar operações secretas especiais além das fronteiras de Israel.ESCOLHA DE PRIORIDADESCom o passar dos anos, a imagem do Mossad ficou seriamente manchada em casa e no exterior. Ele foi acusado em parte por não conseguir informações sobre os planos egípcios e sírios para o devastador ataque que deu início à Guerra do Yom Kippur. Críticos quiseram saber se os espiões tinham escolhido as prioridades certas ao se concentrar na caça a pistoleiros palestinos nos becos de cidades europeias quando deviam estar roubando segredos no Cairo e em Damasco.Mas o pior objetivo próprio veio em 1997, durante o primeiro mandato como premiê de Binyamin "Bibi" Netanyahu. Agentes do Mossad fracassaram na tentativa de assassinar Khaled Meshaal - o mesmo líder do Hamas que agora está ameaçando retaliar pelo assassinato de Mabhouh. A reputação de Israel sofreu um revés sem precedente, atingindo um novo ponto inferior durante a Operação "Chumbo Derretido" na Faixa de Gaza no ano passado. Yossi Melman, especialista em inteligência do jornal israelense Haaretz, receia que, como fez antes da guerra de 1973, o governo israelense possa estar fazendo a coisa errada ao concentrar-se no inimigo errado - os palestinos - em vez de dar prioridade ao Irã e ao Hezbollah.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.