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Passado ainda assombra Sarajevo no centenário da Primeira Guerra Mundial

Por MATT ROBINSON E DARIA SITO-SUCIC
Atualização:

Dois concertos em duas cidades bósnias irão marcar no próximo sábado o centésimo aniversário do assassinato em Sarajevo que serviu de estopim à Primeira Guerra Mundial, em um país dividido onde o passado ainda assombra o presente. Os eventos separados falam muito sobre a Bósnia um século mais tarde, onde as percepções sobre o servo-bósnio Gavrilo Princip, que matou o arquiduque Franz Ferdinand, foram distorcidas pelo tempo e pela política, e a dor do sangrento fim da Iugoslávia permanece latente. Na capital, onde o herdeiro do trono de Habsburgo foi morto a tiros em uma manhã do verão de 1914, a Filarmônica de Viena irá tocar Haydn, Schubert, Brahms e Ravel em memória do assassinato que desencadeou a guerra e acabou com uma era de paz e progresso na Europa. No leste, na cidade de Visegrád, a primeira orquestra da Sérvia irá apresentar o concerto de verão de Vivaldi em homenagem a Princip, que para os sérvios é um herói cujo ato pôs fim a séculos de ocupação nos Bálcãs. Líderes da Sérvia e dos servo-bósnios se recusaram a participar dos eventos em Sarajevo, dizendo que os bósnios muçulmanos e os croatas católicos da Bósnia querem mostrar Princip como um terrorista nacionalista e os sérvios ortodoxos como culpados pelas guerras que iniciaram e encerraram o século 20. Em vez disso, eles irão inaugurar um mosaico de Princip e seus colaboradores em Visegrád, onde atores irão reencenar o assassinato de Ferdinand e o julgamento do assassino, de 19 anos, que morreu de tuberculose na prisão meses antes do fim da Primeira Guerra Mundial. O assassinato “iniciou a libertação da servidão e da escravidão”, disse o cineasta Emir Kusturica, organizador dos eventos de Visegrád, à Reuters. “Não sei por que todos comemorariam o dia no mesmo lugar se o veem de forma tão diferente”. A divisão ameaça silenciar aqueles que esperam enviar uma mensagem de unidade. Os eventos de sábado em Sarajevo serão finalizados com um musical ao ar livre que irá unir 280 artistas de toda a Europa, incluindo sérvios, com o título “Um século de paz após um século de guerras”. “Gostaríamos de iniciar simbolicamente um novo século com um ato artístico sobre paz e amor”, declarou o diretor Haris Pasovic. "Nós representamos uma geração mais jovem", disse o estudante de teatro sérvio Uros Mladenovic. "Essas pessoas são movidas pela mesma ideia básica - a vitória da paz e da vida sobre todas as coisas ruins que aconteceram." O presidente austríaco, Heinz Fischer, deve encabeçar uma lista de dignitários principalmente da região. Grande parte das comemorações é patrocinada pela França.

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