Paulistana leva o Brasil para um dos grandes centros culturais dos Estados Unidos

Maria do Carmo Fulfaro trabalha no Broward Center for the Performing Arts, que está entre os dez maiores em vendas de ingressos nos EUA

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colunista convidado
Por Chris Delboni
Atualização:

Maria do Carmo Fulfaro, às vezes, se compara ao camaleão. Como ele, Maria é apta a mudanças, com uma enorme capacidade de adaptação e evolução.

Maria do Carmo Fulfaro nafrente da sala VIP que logo levará o nome de LAN & TAM Foto: Jade Matarazzo

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Um amiga a definiu muito bem outro dia quando disse: "Se a Maria perder tudo hoje, amanhã ela já tem trabalho e coloca comida na mesa. Sua grande característica é a luta.É uma grande batalhadora.Ela sobrenada em qualquer situação e sempre chega viva à praia."

Já Maria do Carmo descreve seus amigos como uma biblioteca: "Você tem amigos para varias situações", diz ela, assim como os livros, cada um em sua categoria. "Eu coleciono amigos", brinca. Como boa canceriana, ela, no fundo, é reservada e adora seu núcleo familiar.

Mas, publicamente, é uma das figuras mais influentes na comunidade brasileira no sul da Flórida, responsável por introduzir a cultura e arte do nosso País em um dos grandes centros de performance da região, o Broward Center for the Performing Arts, que está entre os dez maiores em vendas de ingressos nos Estados Unidos.

E, em poucos dias, mais uma vez, graças, em grande parte, às conexões, à dedicação e aos esforços da paulistana do Brooklin, a sala VIP do Broward Center - conhecido como "Club Level" - mudará de nome e passará a se chamar LAN & TAM Airlines Club Level, resultado da junção da companhia aérea chilena LAN com a brasileira TAM. 

Mas a relação com o estabelecimento cultural começou há 15 anos. "Fui responsável por trazer a cultura brasileira para o Broward Center", diz Maria do Carmo, vaidosa de suas conquistas e de seu País. "Me orgulho muito da minha história.Mas só lembro quando conto", diz, rindo.

Hoje, como gerente de marketing e vendas, Maria Fulfaro não só cuida da promoção dos eventos brasileiros, mas também de pelo menos 150 dos 700 que passam anualmente pelo Broward Center, de pequenos encontros e espetáculos aos grandes musicais da Broadway. 

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O Broward Center gera um impacto econômico na faixa de US$ 90 milhões e recebe mais de 600 mil pessoas nos seus teatros todo ano.

Mas, para Maria, o sucesso não aconteceu por acaso. "Quanto mais eu trabalho, mais sorte tenho" é um de seus lemas de vida."Acho que tenho muita sorte porque eu trabalho muito", brinca.

A trajetória dela no Broward Center começou em 2000, quando foi contratada para desenvolver e promover a primeira noite brasileira no espaço cultural: Brazil Night, com Ivan Lins, Leila Pinheiro e Ed Motta.A segunda, no ano seguinte, contou com Gal Costa e Dori Caymmi.E assim foi, até que, em 2006, o Broward Center se tornou o "Ponto de Cultura do Sul da Florida", parte do projeto Cultura Viva do Ministério de Cultura do Brasil.

Em seguida, Maria foi efetivada no departamento de marketing do Broward Center.

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"Queriam que eu coordenasse o 'ponto de cultura'.Mas o CEO falou: 'quero que você não esteja só voltada para o Brasil; quero que você esteja integrada no marketing'", conta ela."Hoje somos só duas pessoas que trabalham com marketing aqui, eu e mais uma. A gente administra seis teatros, um deles com 2.700 lugares."

Mas essa guerreira, lutadora, que "sobrenada" em qualquer situação, não começou sua luta agora.Essa característica vem de cedo e de família.

Maria perdeu a mãe aos 13 anos, vítima de um câncer de mama. "Quando minha mãe morreu, eu sei que meu pai gastou tudo o que tinha e que não tinha para poder tentar ajudar nos tratamentos.A gente estava quebrado", diz. "Ele trabalhava o dia todo e fazia questão que eu assumisse o controle do cotidiano da casa, tipo lista de supermercado, coordenar cardápio do almoço, jantar, isso além da escola e tudo mais."

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Eram ela e dois irmãos: Ricardo, um ano mais novo, e Vicente, que faleceu no ano passado, do primeiro casamento do pai, cinco anos mais velho. Hoje, ela tem mais um irmão, Thiago, do último casamento do pai."Meu pai teve cinco casamentos", explica, bem-humorada."Acho bacana essa história de você se apaixonar várias vezes."

Mas, no caso dela, dois bastaram.

Ela cursava faculdade de psicologia em São Paulo quando um amigo deu a dica que a Rede Bandeirantes precisava de telefonistas para o Show do Esporte. "Não tinha o menor interesse por jornalismo - fui atender o telefone para ganhar um dinheiro nos finais de semana", lembra."Lá comecei a me envolver e adorar o jornalismo esportivo."LogoMaria do Carmo se tornou coordenadora das telefonistas na área de promoções do programa e foi contratada pelo locutor esportivo e apresentador de televisão Luciano do Valle, que faleceu no ano passado.

"Luciano sempre teve um entusiasmo pela vida e pelo esporte contagiante. Tive sorte de participar dos 'anos dourados' do esporte da Band", diz Maria, que acabou largando a psicologia pelo jornalismo e se envolvendo num relacionamento com esse grande mito da história de coberturas esportivas no Brasil.

Maria entrou na faculdade de jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi. A questão é que ela já estava muito envolvida no ramo, ocupada com seu trabalho e produção dos programas de esporte e viajava muito com Luciano e a equipe esportiva, até que se mudou para Miami em 1990 para abrir a Luqui Television, que daria suporte operacional para as coberturas internacionais da Rede Bandeirantes e manteria um programa diário em português para brasileiros numa TV a cabo do sul da Flórida. Isso tudo em uma época que nenhuma televisão brasileira transmitia programação aqui nos Estados Unidos.

"Eu mandava todo dia um menino para o aeroporto de Miami pegar uma fita que a Bandeirantes me enviava com as imagens do dia anterior do jornalismo", lembra. Acabou não terminando a faculdade de jornalismo, mas se tornou uma grande jornalista e correspondente esportiva pela experiência prática. "Virei repórter aqui.A gente gerava matérias para o Brasil", conta."Aparecer no vídeo era legal, mas eu não tinha um talento natural. Era uma coisa que eu tinha que trabalhar muito", diz Maria, hoje com 51 anos.

Sua escola de jornalismo foi a Luqui e Luciano do Valle, com quem viveu por sete anos. O relacionamento acabou, a empresa fechou e Maria continuou fazendo reportagens para a Band. Cobriu Olimpíadas, Copa do Mundo, jogos da NBA e Miami Heat. E foi assim, nas coberturas esportivas, que conheceu seu atual marido, o ex-campeão de motociclismo José Xavier Soares, o Birigui, com quem tem uma filha de 14 anos, Gabrielle, que segue a paixão dos pais por esporte e espera trazer vários troféus de golfe para casa.

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A maior lição que recebeu da mãe e quer passar para a filha: "A vida dá muitas oportunidades, mas você tem que saber escolher - é uma decisão sua se você quer pegar o caminho 'A' ou o caminho 'B', fazer boas escolhas e proteger sua dignidade.Lutar pelas coisas que você quer, sim, mas a dignidade é essencial na vida.Eu quero que ela seja uma pessoa do bem."

Assim, Maria também optou por uma nova vertente dentro da carreira de comunicação. Quando a Luqui fechou, ela abriu uma empresa de marketing e produção de eventos e, desde então, vem trazendo grandes peças, artistas e talentos brasileiros para Miami, incluindo Jô Soares, Fernanda Montenegro, Gilberto Gil, João Bosco, Toquinho e o pianista Joao Carlos Martins, que em 2011 fez um emocionante concerto no Broward Center. 

"Eu não vejo dificuldades nas coisas.Minha tendência é assim: tudo eu posso.Até que me provem o contrário", encerra a sempre esperançosa Maria. 

No vídeo, Maria do Carmo Fulfaro conta o segredo do seu sucesso:

Conheça o segredo do sucesso de Maria Fulfaro, repórter esportiva, hoje grande influência nas artes no Sul da Flórida from Chris Delboni on Vimeo.

 

Twitter @chrisdelboni

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