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Pela filha, ele ensina as mães a doar leite

Após perder mulher, Freitas iniciou campanha nas redes sociais para conseguir leite materno

Por Paula Felix
Atualização:

Em maio, o administrador de empresas Fabrício de Freitas, de 36 anos, tornou-se pai e mãe de Sofia, hoje com quase três meses. Ele perdeu a mulher, que sofreu um enfarte duas semanas após o parto, e, depois disso, tem mobilizado uma campanha de doação de leite para poder dar à filha o direito de ser alimentada com leite materno.

Após a morte da mulher,o administrador de empresas Fabrício de Freitas, de 36 anos,dedica-se a Sofia, que tem síndrome de Down Foto: Sergio Masson

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Neste seu primeiro Dia dos Pais, ele colhe os frutos da campanha iniciada nas redes sociais para garantir que sua filha recebesse leite materno: o estoque do banco de leite do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) registrou um aumentou de, ao menos, 30%.

A chegada de Sofia foi planejada. Com dez anos de casamento, Freitas e Flávia Pasquetta, de 37 anos, resolveram ter um bebê. “A Sofia veio de uma fertilização que a gente fez. Tudo correu bem ao longo da gestação, mas, com oito meses, a gente descobriu que ela tinha uma obstrução no duodeno e precisaria passar por uma cirurgia.”

Down. O parto ocorreu sem problemas, mas o casal foi informado, após o procedimento, que a criança tem síndrome de Down. “Não sabíamos. Fizemos todos os exames durante a gestação e nenhum acusou.” Dois dias depois, Sofia foi operada para corrigir o problema no intestino e ficou internada.

Flávia teve alta em uma sexta-feira. Na terça-feira da semana seguinte, enquanto visitava a filha no hospital, teve um ataque cardíaco e morreu uma semana depois. “Minha vida virou de ponta-cabeça. Eu me vi sem a minha mulher e com a Sofia. Quando ela saiu do hospital, começou a campanha para o leite. Estava preocupado com a amamentação.”

O leite do banco do hospital é destinado para crianças que estão internadas na unidade. “Na primeira semana, tivemos muitas mulheres que procuraram para saber como fazer a doação. Conseguimos o leite destinado para a Sofia, porque muitas mulheres começaram a doar. Isso começou em maio e se mantém até hoje”, diz Larissa Garcia Alves, diretora técnica de saúde do banco de leite humano do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. “A história da Sofia sensibilizou as mães. Ela está recebendo leite, que é o melhor alimento, até hoje.”

A campanha de Freitas não beneficiou só Sofia. “Em média, teve um aumento de 30% nas doações. Ele fez tudo certinho, sempre procurando orientação com profissionais de saúde em uma fase muito difícil da vida dele. E essa campanha se estendeu para outras crianças.”

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Dedicação. O administrador se mudou para a casa dos pais, que o ajudam, mas ele é o responsável pelos cuidados com a menina. “Eu sempre gostei muito de criança, de brincar com meus primos e com as crianças com quem tinha contato. Surgiu essa oportunidade de cuidar da minha filha e aprendi a dar banho, trocar fralda, coisas que qualquer pessoa tem de saber”, diz.

Freitas também acompanha a filha quatro vezes por semana nas sessões de terapia ocupacional, fisioterapia e fonoaudiologia. A função é dividida com a avó paterna da criança. 

Com o apoio da família, dos amigos e de toda a rede criada para doação de leite materno, ele tem superado as dores e dificuldades. “Tenho o desafio de cuidar, educar e fazer isso sozinho, mas estou dando o meu melhor. A paternidade é algo muito bom, é passar adiante toda a sua essência.”

E ele não abre mão da função de alimentar a filha. “Existe um vínculo na amamentação. Ela mama oito vezes ao dia e, quando estou em casa, dou de mamar o máximo que posso. Espero que ela seja feliz e atenda às necessidades dela e não às minhas expectativas.”

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