PUBLICIDADE

Perícia desmente versão de PMs sobre morte de estudante durante perseguição

Após terceira perícia realizada nesta sexta-feira, 3, peritos concluíram que furos em viatura foram causados por disparos de dentro do veículo

Por MARCELO GOMES
Atualização:

O delegado José Pedro Costa da Silva, da 21ª Delegacia de Polícia (Bonsucesso), disse na manhã desta sexta-feira, 03, que está descartada a versão de quatro policiais militares de que teriam trocado tiros com quatro jovens que estavam num Kia Cerato que furou uma blitz na Linha Amarela, zona norte do Rio, na madrugada da última segunda, 30. Depois que o Cerato desrespeitou a ordem de parar, os PMs iniciaram uma perseguição, que terminou na Avenida Dom Hélder Câmara, no bairro de Pilares, zona norte, a cerca de cinco quilômetros de distância. Durante a fuga, o estudante de Cinema da PUC-Rio João Pedro Cruz, de 23 anos, morreu ao ser atingido por um tiro de fuzil. Ele estava sentado no banco de trás do motorista do Cerato, Pedro Igor Silva das Neves, de 19 anos. O motorista, Luiz Gustavo Lopes de Almeida e João Pedro Eusébio de Queiroz, ambos de 22 anos, não se feriram. Nenhum dos rapazes tinha antecedentes criminais.Nesta sexta, foi realizada mais uma perícia (a terceira) no Cerato e na viatura utilizada pelos PMs, número 54-6077, do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE). Os peritos constataram que o Cerato foi atingido por cinco disparos (dois na tampa do porta-malas, um na porta traseira direita, um na porta traseira esquerda, e um no vidro para-brisas). Já o Renault Logan da PM tem duas marcas de tiros (no retrovisor do motorista e na porta traseira direita). "Antes dessa perícia, tínhamos apenas uma dúvida: de onde partiram os tiros que atingiram a viatura. Agora, temos certeza que os disparos foram de dentro para fora da viatura, ou seja, foram efetuados pelos próprios PMs durante a perseguição. Podemos afirmar categoricamente que não houve troca de tiros com os jovens, até porque não foi encontrada nenhuma arma dentro do Cerato", explicou o delegado.Dentro do veículo onde estavam os jovens, foi encontrada pequena quantidade de maconha e cocaína. Para o delegado, não há nada que indique que os rapazes sejam traficantes. "Tudo leva a crer que a droga era para consumo próprio. Talvez seja esse o motivo que fez com que eles não tivessem parado na blitz".A Polícia Civil ainda aguarda a chegada de imagens de câmeras de segurança da concessionária Lamsa, que administra a Linha Amarela. Três fuzis e uma pistola que estavam com os PMs foram apreendidos para serem submetidos a exame de balística. Segundo o delegado, os quatro policiais teriam efetuado 14 disparos no total. Em depoimento na 21ª DP, eles alegaram que foram atacados a tiros primeiro, e apenas revidaram. Os PMs foram identificados como cabo André Luiz Fernandes da Silva (que estava com a pistola), cabo Rodrigo Vinícius Ferreira Duarte, sargento Charles Pinto Pereira da Silva e sargento Wagner Luiz da Silva Ramos (os três últimos estavam com fuzis calibre 5.56)."Ora, se os PMs alegam que só atiraram depois dos rapazes e durante a perseguição, então como o Cerato está com uma marca de tiro no para-brisa que entrou por fora?", questionou o advogado Pedro d'' Alcântara, que representa os jovens. Segundo ele, os rapazes haviam saído de uma festa na zona sul e retornavam para casa, na Barra da Tijuca, bairro nobre da zona oeste, pela Linha Amarela.A Polícia Militar informou que os quatro praças foram remanejados para plantões em cabines localizadas em vias expressas da cidade. A corporação também abriu inquérito policial militar (IPM) para apurar o caso.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.