PUBLICIDADE

PM prende repórter de rádio mineira que cobria desocupação em Belo Horizonte

Verônica Pimenta, que também é diretora do Sindicato dos Jornalistas de Minas, prestou depoimento e foi liberada; presidente da entidade diz que episódio não pode ser tratado de forma isolada; segundo capitão, jornalista foi detida por desobediência ao se recusar a deixar perímetro de segurança

Por Leonardo Augusto
Atualização:

BELO HORIZONTE - A repórter da Rádio Inconfidência Verônica Pimenta foi presa nesta segunda-feira, 20, pela Polícia Militar em Belo Horizonte quando cobria a retirada de moradores de área ocupada no bairro Copacabana, em Venda Nova, região norte da capital mineira. Verônica, que também é diretora do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, fazia entrevistas no início da manhã quando policiais se aproximaram e disseram que a repórter não poderia ficar no local. A jornalista tentou argumentar. Nesse momento, quatro PMs desligaram seu microfone e a levaram para a delegacia regional, onde foi ouvida. Verônica foi liberada à tarde, após prestar depoimento, e teve aberto processo por desobediência, conforme informações do presidente do sindicato, Kerison Lopes.

PUBLICIDADE

Em entrevista à Rádio Itatiaia, a repórter afirmou ter dito aos policiais não saber que a área era restrita e que sairia assim que terminasse as gravações, mas, segundo ela, os policiais foram muito agressivos e lhe deram voz de prisão. Em nota, a Rádio Inconfidência, que é estatal, afirmou ser "solidária à repórter Verônica Pimenta, jornalista experiente, competente e comprometida com a profissão como prova diariamente nestes 11 anos de serviços prestados à emissora. Ressaltamos ainda que a Rádio Inconfidência repudia qualquer ato de arbitrariedade e cerceamento do direito de liberdade de informação. Informamos também que o departamento jurídico da Rádio Inconfidência está acompanhando todo o processo e vai tomar as providências cabíveis".

Para o presidente do sindicato dos jornalistas, o episódio não pode ser tratado de forma isolada. "Mais uma vez a Polícia Militar de Minas Gerais impede o trabalho da imprensa do Estado. Continua atuando fora da lei. É um absurdo o que estão fazendo". Lopes citou como outros exemplos da atuação da PM em Minas os casos de dois repórteres do jornal O Tempo atingidos por balas de borracha durante cobertura de protesto contra o aumento de passagens no ano passado, e a tentativa de intimidação feita por cerca de cem policiais do Batalhão de Choque contra jornalistas da TV Alterosa, do Grupo Diário Associados, que faziam manifestação na porta da emissora por não terem recebido o décimo terceiro salário.

O capitão Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar, afirmou que a repórter foi presa por desobediência ao se recusar a deixar um perímetro de segurança necessário para a operação de retirada de moradores que estava em curso. Disse ainda que todos os jornalistas sabem que, nesses casos, a presença nesses locais é proibida. "Há uma área reservada para os repórteres, com estrutura, água". Sobre as outras atuações da PM citadas pelo presidente do sindicato dos jornalistas, o capitão afirmou que, no caso das balas de borracha, foi um fato isolado. "Tivemos várias outras manifestações desde 2013 e nada aconteceu". Em relação aos policiais do Batalhão de Choque convocados para a manifestação de repórteres da Alterosa que não receberam o décimo-terceiro, Flávio Santiago afirmou que a presença de grande número de homens já faz parte de estratégia para que não ocorram problemas em protestos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.