Repórteres libertadas na Coreia do Norte voltam aos EUA

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Por STEVE GORMAN E DAN WHITCOMB
Atualização:

Duas jornalistas norte-americanas libertadas pela Coreia do Norte após meses de prisão retornaram aos EUA nesta quarta-feira acompanhadas pelo ex-presidente Bill Clinton, que obteve a libertação delas em um encontro com o recluso líder do país comunista King Jong-il. Laura Ling, de 32 anos, e Euna Lee, de 36, repórteres da TV a cabo Current, que tem como um dos fundadores o vice-presidente de Clinton, Al Gore, desembarcaram com o ex-presidente num jato privado, no aeroporto de Burbank, perto de Los Angeles, vindo diretamente da Coreia do Norte. As duas jornalistas foram detidas em 17 de março por cruzar ilegalmente a fronteira entre a China e a Coreia do Norte quando faziam reportagens sobre tráfico de mulheres. Elas foram condenadas em junho a 12 anos de trabalhos forçados. Ling levantou os braços quando as duas desceram do avião para um encontro cheio de lágrimas com suas famílias no hangar do aeroporto. Ela disse que as duas temiam ser levadas a qualquer momento para um campo de trabalhos forçados mas, em vez disso, na terça-feira, foram conduzidas a um local onde Clinton as esperava. "Sabíamos que o pesadelo de nossas vidas havia finalmente chegado ao fim", disse ela a jornalistas. Ling agradeceu a todos, conhecidos ou não, que fizeram campanha pela libertação delas. "Nós pudemos sentir seu amor todo o tempo na Coreia do Norte. Foi o que nos manteve firmes nas horas mais sombrias." Clinton foi recebido com fortes aplausos e um abraço de Gore. "O presidente (Barack) Obama e um número incontável de pessoas de seu governo estiveram profundamente envolvidos", disse Gore. Obama disse estar "extraordinariamente aliviado" com o retorno das duas jornalistas e relatou ter conversado com Clinton. "Quero agradecer ao presidente Clinton -- já tive a oportunidade de falar com ele -- pelo extraordinário esforço humanitário que resultou na libertação das duas jornalistas", disse Obama. A mulher de Clinton, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse a repórteres em Nairóbi, no Quênia, que está feliz e aliviada. Ela acrescentou que não há conexão entre o esforço para libertar as duas jornalistas e a espinhosa questão nuclear com a Coreia do Norte. MISSÃO PARTICULAR Segundo uma autoridade norte-americana, Bill Clinton não prometeu nenhuma recompensa ao governo de Pyongyang para conseguir a libertação. A fonte disse que Clinton conversou com o líder norte-coreano sobre "as coisas positivas que podem acontecer" a partir da libertação de Laura Ling e Euna Lee. A fonte não deu mais detalhes, mas alguns analistas especularam que a visita de Clinton e as negociações com Kim Jong-il podem abrir as portas para a retomada das conversações sobre o desarmamento da Coreia do Norte. Os EUA têm pela frente a ardilosa tarefa de tentar convencer o governo norte-coreano a abandonar seu sonho de se tornar uma potência nuclear sem que essa iniciativa seja vista como uma espécie de recompensa pelas repetidas ações militares da Coreia do Norte ao mesmo tempo que as reivindicações de outras nações da região são ignoradas, dizem analistas. "O presidente Clinton deixou claro que essa era uma missão humanitária puramente particular", disse a autoridade dos EUA a jornalistas em Washington, após Kim ter perdoado as jornalistas e permitido que elas voltassem a Los Angeles com Clinton. A Coreia do Norte havia concordado antes da viagem de Clinton que a visita do ex-presidente não teria ligação com a questão nuclear, disse a autoridade, falando sob condição de anonimato. A fonte afirmou também que a Coreia do Norte ficará ainda mais isolada se continuar com seu "comportamento provocativo", que tem incluído testes nucleares e de mísseis. O governo dos EUA vai manter os esforços para pôr em prática as sanções aprovadas pela ONU contra o país, depois que realizou um teste nuclear, em 25 de maio. (Reportagem adicional de Steve Gorman na Califórnia, Jack Kim em Seul, Lucy Hornby em Pequim, Chisa Fujioka em Tóquio, Sue Pleming em Nairóbi; e Ross Colvin, Matt Spetalnick e Paul Eckert em Washington)

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