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Rússia compra menos e preocupa setor de carne do Brasil em 2009

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

As exportações de carne bovina do Brasil para a Rússia, que responde por quase 40 por cento das vendas externas do produto in natura do Brasil, despencaram em novembro, continuam ruins em dezembro e devem seguir em um nível baixo pelo menos nos primeiros meses de 2009, o que fez exportadores revisarem para baixo suas projeções para o ano que vem. "Talvez a Rússia reduza sua participação (nas vendas externas do Brasil em 2009) para 20 por cento no ano que vem", disse o presidente da Abiec, Roberto Giannetti da Fonseca, em entrevista a jornalistas, comentando resultados divulgados nesta quinta-feira. Veja mais em . Segundo Fonseca, a Rússia vem apresentando um "desempenho muito pior do que havia sido originalmente previsto", com a deterioração da economia daquele país, uma expressiva fuga de capitais e queda de quase 200 bilhões de dólares nas reservas internacionais --boa parte do crédito bancário era feito com "funding" externo, disse o executivo. Entre janeiro a novembro, os russos compraram 547 mil toneladas (equivalente carcaça) de carne in natura, queda de 11 por cento ante o mesmo período de 2007, no qual as exportações do Brasil para todos os destinos somaram 1,41 milhão de toneladas. No acumulado do ano até novembro, o Brasil vendeu para todos os destinos 458 mil toneladas de carne industrializada --sem registro de vendas aos russos--, contra 485 mil toneladas no mesmo período de 2007, segundo a Abiec. Com a menor participação dos russos nas vendas externas do Brasil em 2009, o país deverá exportar para todos os destinos no ano que vem praticamente o mesmo previsto para este ano: 2,2 milhões de toneladas (in natura, industrializada e miúdos), equivalente a 5,3 bilhões de dólares. Esses números indicam uma queda em relação à previsão feita em novembro, quando a Abiec esperava vendas em 2009 entre 6,5 e 7 bilhões de dólares e embarques de 2,5 milhões de toneladas para todos os 150 países importadores de carne do Brasil. Se essa previsão mais conservadora para 2009 for confirmada, o Brasil, pela primeira vez em oito anos, deixará de elevar as vendas externas em valor anualmente, segundo Giannetti. Em 2008, afetadas por restrições européias, as exportações caíram ante o ano anterior em volume pela primeira vez desde 2001, quando passaram a subir a taxas anuais galopantes. Para Fonseca, a retração nas vendas para a Rússia e outros importadores em 2008 também ocorreu por conta dos altos preços do produto no mercado internacional, que subiram 40 por cento ante 2007, o que levou alguns importadores a reduzirem suas compras. São esses mesmos preços elevados que garantiram bons resultados ao setor neste ano apesar da queda nos volumes. Com a crise, no entanto, entre outubro e novembro, os preços do produto in natura já caíram cerca de 10 por cento, para cerca de 4 mil dólares por tonelada. COMPENSANDO COM UE E CHILE Se a Abiec prevê menores volumes para a Rússia, além de preços mais baixos do produto, conta com uma retomada das exportações para a União Européia e Chile para pelo menos manter no ano que vem o volume exportado em 2008. As exportações do produto in natura para a UE poderiam chegar a 200 mil toneladas em 2009, ainda abaixo das mais de 350 mil toneladas antes da crise da rastreabilidade, mas bem acima das registradas em 2008, de cerca de 100 mil toneladas, disse Fonseca, lembrando que o Brasil está atendendo as exigências sanitárias dos europeus. Outro fator que deve permitir ao Brasil elevar suas vendas à Europa é o problema da contaminação por dioxina na carne da Irlanda, grande exportador para os países do bloco, justamente aquele que liderou a campanha contra o produto brasileiro, disse o presidente da Abiec, observando que é o produto irlandês que agora está embargado. A Abiec espera que o Chile, que não tem comprado carne do Brasil, adquira pelo menos 60 mil toneladas em 2009, ainda abaixo do volume comprado antes de os chilenos suspenderem as compras. "Vamos perder a Rússia e outros mercados, a União Européia e o Chile vão manter as vendas no nível d'água."

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