Sobrevivente de crime racista pede clemência para assassino

Responsável por mortes de paquistanês e indiano após o 11/9, americano tem execução marcada para 4ª feira.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Em um apelo de última hora, o único sobrevivente de uma série de ataques racistas cometidos nos Estados Unidos após 11 de setembro de 2001 está tentando evitar a execução do supremacista branco que os cometeu. Raisuddin Bhuiyan, um imigrante de Bangladesh que ficou cego após ser atingido por um tiro no rosto, está processando o governador do Texas, Rick Perry, para tentar converter para prisão perpétua a sentença de pena de morte de Mark Anthony Stroman. A execução de Stroman está marcada para próxima quarta-feira, 20, por injeção letal. Na esteira dos ataques às Torres Gêmeas, em Nova York, ele matou a tiros um indiano e um paquistanês alegando "patriotismo" e motivado pelo desejo de vingança pelo atentado. Stroman disse que escolheu as suas vítimas porque elas "pareciam muçulmanas". "Não sou um assassino em série. Estamos em guerra. Fiz o que tinha de fazer", disse, após ser preso, na época. A irmã dele estava em uma das torres que desabaram após serem atingidas por aviões. No dia 15 de setembro de 2001, Stroman matou a tiros o paquistanês Waqar Hasan, de 46 anos, que trabalhava fazendo hambúrgueres em Dallas. Seis dias depois, atirou no rosto de Rais Bhuiyan em um posto de gasolina da cidade. O imigrante bengali sobreviveu, mas ficou cego de um olho. No dia 4 de outubro, em outro ataque a uma loja de conveniência de um posto de gasolina no subúrbio de Mesquite, Stroman matou o indiano Vasudev Patel. Os crimes racistas de Stroman causaram revolta e geraram protestos por parte da comunidade do sul asiático nos Estados Unidos, que organizou manifestações para reforçar a sua distância com os autores dos ataques. Um júri condenou-o à morte em abril de 2002 pela morte de Vasudev Patel, que era adepto do hinduismo. Redenção Entretanto, Bhuiyan, o único sobrevivente dos ataques, diz que perdoou o seu agressor e que a aplicação da pena de morte para o pai de família só trará mais tristeza para todos os envolvidos. "Perdoei-o muitos anos atrás. Na verdade, nunca o odiei. Nunca odiei a América pelo que me aconteceu. Acredito que ele (Stroman) era um ignorante incapaz de distinguir entre o certo e o errado. Se fosse diferente, não teria feito o que fez", escreveu, no site de sua organização World Without Hate (Mundo Sem Ódio). O bengali diz acreditar que Stroman não apenas se arrependeu do que fez, como poderia ser um porta-voz em favor da causa contra crimes racistas. A dias da execução de seu agressor, Bhuiyan está processando o governo do Texas alegando que não pôde não teve concedido o direito de se encontrar, através de mediação, com o seu agressor, como prevêem as leis relativas ao direito das vítimas. "Por favor, faça a coisa certa: salve a vida de um homem", pediu. Preso e esperando o sua dia no corredor da morte, o pai de três meninas e um menino disse que a atitude de Bhuiyan é uma "demonstração de grandeza". Em seu blog que atualiza na prisão, o condenado à morte diz que está arrependido. "Não posso dizer que eu sou um homem inocente. Não estou pedindo que sintam pena de mim e não vou esconder a verdade. Sou um ser humano e cometi um erro terrível de dor, amor e raiva. Acreditem, estou pagando por esse erro a cada minuto e isso me assombra mesmo nos meus sonhos." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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