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Som a Pino: 'No mais, vida de artista'

Uma vez, quando eu estava começando a trabalhar com música brasileira, entrevistei a cantora e compositora Anelis Assumpção e perguntei pra ela “Como está a turnê desse disco?” e ela me respondeu rindo “Turnê é ótimo, adoro!” e continuou a falar do trabalho, mas eu parei nessa frase e fiquei pensando. Turnê, temporada, sucesso, venda de discos, são algumas expressões que devemos evitar quando assunto é música em 2016.EXPLICO O PORQUE

Por Roberta Martinelli
Atualização:

O mercado da música mudou muito. As gravadoras não têm mais a força que já tiveram, não são elas que determinam o que deve ou não deve ser gravado. Artistas gravam, produzem, inventam sua maneira de lançar, de vender, enquanto nós, que noticiamos a música, ainda estamos presos a alguns vícios de linguagem.   “Depois do enorme sucesso, a cantora volta ao Brasil para nova temporada de shows”, “O cantor sai em turnê pelos EUA”, “A música brasileira que faz sucesso pelo mundo”, “O prêmio colocou o artista em outro patamar da carreira” ou “Premiado por crítica e aclamado pelo público”. Não é que não exista sucesso. Mas de qual sucesso falamos? Vender muitos discos sendo uma fabricação de uma indústria é sucesso? Vender poucos discos mas construir um público cantando o que você acredita é sucesso? Qual o seu sucesso? O meu? O dele? Relativo demais, logo, deveríamos perguntar para o artista se ele tem sucesso. Talvez ele, e só ele possa responder. Vender discos. Onde vende discos hoje? Muitas vezes me perguntam “onde encontro o disco daquele artista que você tocou? Fui na loja e não tem”. Turnê existe? Claro. Quantos shows configura turnê? Carregar instrumento de um lado pro outro, dormir em rodoviária, montar palco, levar calote de contratante é turnê? Prêmio. Outra questão. Participo de várias comissões, mas como três, cinco, dez pessoas definem o que é o melhor do ano? O que é melhor em arte? Quem é melhor? E não me chamem de contraditória se, na semana que vem, eu participar de uma comissão, eu vou.

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O mercado da música saiu na frente na crise da indústria. Teve que se reinventar. E o fez muito bem. Claro, questões mil ainda precisam ser resolvidas. Mas existe uma nova forma de fazer que exige novos termos.

E FALANDO NISSO Agora é hora de colocar em prática tudo que escrevi. A cantora que me inspirou há um tempão a repensar meu modo de falar e escrever sobre música, Anelis Assumpção, embarcou para quatro shows na Europa: dois na Espanha e dois em Portugal.

Um dos shows acontece dentro de uma das maiores feiras de música do mundo, Womex 2016. A feira acontece cada ano em um canto da Europa, a deste ano começou ontem, em Santiago de Compostela, e vai até o dia 23 de outubro com a participação de mais de trezentos músicos de quarenta países. A cantora que tem dois discos solo lançados, o primeiro de 2011 Sou Suspeita, estou sujeita, não sou santa, e o mais recente de 2014, Anelis Assumpção e os Amigos Imaginários, se apresenta no dia 22 no Salón Teatro. Na programação, também a banda Aláfia, Zimun, Nômade Orquestra, Quarteto Roda de Choro e Marcelo Vig.MÚSICA DA SEMANA PRA TE TOCAR - Gustavo Galo O cantor e compositor lança em breve seu segundo disco solo Sol, com produção de Gustavo Ruiz. Na canção, parceria com Marcelo Segreto ele diz “uma música que não pode passar pelas ondas do rádio” não pode, mas vai tocar meio-dia, no Som a Pino na Eldorado FM (107,3).

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