Troca no Ministério dos Transportes não deve afetar diálogo com iniciativa privada sobre ferrovias

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Por LEONARDO GOY
Atualização:

A troca no comando do Ministério dos Transportes anunciada nesta quarta-feira não deve alterar as negociações em curso com a iniciativa privada para viabilizar concessões de ferrovias, disseram à Reuters especialistas no setor. A principal razão para essa expectativa é a de que o substituto de César Borges, o atual presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Paulo Sérgio Passos, já foi ministro dos Transportes no governo do PT e conhece bem o funcionamento e as prioriodades da administração atual. "Acredito em continuidade da política pública. Paulo Sérgio Passos tem uma experiência considerável no ministério", disse à Reuters o presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Gustavo Bambini. Borges, à frente dos Transportes desde abril de 2013 e principal articulador de uma série de leilões de ferrovias federais, foi substituído da pasta após pressão de seu próprio partido, o PR, que na terça-feira informara ao governo que não via a legenda representada por ele no ministério. Borges, porém, não deixa o governo e assume a Secretaria dos Portos, onde terá a missão de tirar do papel outro processo de licitações, o de arrendamentos de áreas em portos, outra frente importante do ambicioso plano de logística do governo federal para melhorar a precária infraestrutura do país. Depois de liderar o processo de concessões de rodovias federais iniciado no ano passado, Borges tentava atrair investidores para viabilizar as concessões de ferrovias, que apesar de terem sido lançadas em 2012 ainda não saíram do papel. O ex-diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luiz Afonso Senna, também acredita que a troca de interlocutor nos Transportes com investidores não deve atrapalhar o processo de viabilização das concessões ferroviárias. "Acredito que, independentemente de quem seja o interlocutor, se é uma vontade de governo, o programa não deve sofrer com a mudança", disse Senna. O ex-diretor da ANTT lembrou ainda que Passos já trabalhou antes com a presidente Dilma Rousseff e conhece o funcionamento das tomadas de decisão. Ex-secretário-executivo do Ministério dos Transportes, quando a pasta era ocupada por Alfredo Nascimento, Passos já assumiu o comando do ministério em três ocasiões anteriores. Duas delas na administração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a última já no governo Dilma. Ele inclusive foi o antecessor de Borges no cargo. A visão otimista sobre a mudança de comando nos Transportes não é unânime, entretanto. Segundo o executivo de uma empresa que atua em concessões, mesmo com toda a experiência de Passos, a troca de comando pode gerar algum atraso nas negociações com investidores sobre as ferrovias. "Por mais experiente que seja quem entra, sempre há um atraso nas negociações. Muita coisa precisa ser retomada, geralmente muda-se a equipe. Não é como uma corrida de bastão em que o outro corredor simplesmente continua de onde estava", disse o excecutivo, que falou sob a condição de anonimato.

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