Urgência de uma agenda positiva e propositiva para 2015

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Por Valdemir Pires
Atualização:
Pela frente. Michel Temer e Dilma Rousseff no Palácio do Planalto no dia da posse Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Análise publicada originalmente no Estadão Noite O quotidiano político e a atividade econômica, no Brasil, desde os meses que precederam as últimas eleições para os cargos federais e estaduais, até hoje, estão conturbados. Primeiro, por causa dos desafios macro e microeconômicos que estão colocados para a retomada do crescimento e para a estabilização dos preços. Segundo, em consequência do confronto acirrado entre correntes político-ideológicas e partidárias, propiciado por um sentimento de “empate” no segundo turno das eleições para a Presidência da República. Na tentativa de “desempate” a seu favor, a oposição continua com seu discurso de campanha, procurando acuar o governo federal com denúncias e isolamento no Congresso Nacional. O governo, por sua vez, não consegue evitar a armadilha de se fatiar entre aliados circunstanciais e instáveis, compondo um ministério com perfil que desagrada politicamente e não promete administrativamente. Tudo em busca de sustentação e de mitigação das críticas incessantes, amplificadas ao máximo pelos meios de comunicação de massas.

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Este estado de coisas, além de dificultar a governabilidade e, por isso, trazer prejuízos ao País e à população, inunda a conjuntura com uma agenda negativa, que tende a se arrastar por tempo indefinido. Fica-se com a impressão de um caos econômico e político que não corresponde à realidade, impregnado por medidas judiciais e policiais que desqualificam a democracia e as instituições, caso sejam exploradas indevidamente. Quadro este que tem explosivo potencial para alicerçar expectativas econômicas bem piores do que as racionalmente compreensíveis e para impor elevado grau de risco à qualidade das relações governo-sociedade.

É fundamental um esforço de todos para aproveitar o rico momento de mobilização e debate, que finalmente retorna à vida nacional, engendrando uma agenda positiva e propositiva, cujos tópicos estejam relacionados aos desafios políticos e econômicos a serem enfrentados nos próximos anos (com difícil travessia nos próximos meses), pelo governo, pela oposição, pela sociedade e pela economia brasileiras, enfim.

Os assuntos relacionados à corrupção e práticas ilegais de todo tipo, no governo e fora dele, deveriam ser enfrentados pelas instâncias afetas a estes temas: Judiciário, Ministério Público e delegacias policiais, de preferência com uma postura profissional e avessa à exposição midiática, como convém a estas instituições.

Assim, aliviados de temas policiais e jurídicos, partidos, governos, bancadas parlamentares e movimentos sociais e sindicais poderiam se dedicar a uma agenda positiva e propositiva, em torno de assuntos como política econômica para a retomada do crescimento econômico e combate à inflação, política industrial e energética para a sustentação da competitividade brasileira no cenário internacional, reforma tributária por maior competitividade econômica e também por equidade social, solução dos graves problemas urbanos (mormente segurança pública e mobilidade), enfrentamento do caos na saúde pública, melhoria do desempenho de todo o sistema educacional, solução da crise hídrica e prevenção contra este problema no futuro, realinhamento de receitas e despesas no federalismo fiscal, melhorias no desempenho da máquina pública e agências reguladoras, reforma política capaz de abrigar participação popular num sistema representativo fortalecido, reforma do Judiciário e disciplinamento republicano dos meios de comunicação, entre outros. * Valdemir Pires é economista, professor e pesquisador do Departamento de Administração Pública da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara

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