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Vice prevê recuperação difícil para Chávez e dias 'duros' para Venezuela

Nicolás Maduro diz que pós-operatório de Chávez será 'complexo'; cenário torna pleito para governador, no próximo domingo, crucial.

Por Claudia Jardim
Atualização:

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, enfrentará um processo pós-operatório "complexo e difícil", anunciou nesta quarta-feira seu vice-presidente, Nicolás Maduro, ao advertir a população para que se prepare para dias "duros". "(Que) nosso povo esteja serenamente preparado para enfrentar esses dias duros, complexos e difíceis que teremos de viver", afirmou Maduro, visivelmente consternado, em cadeia nacional. No último sábado, Chávez anunciara que voltaria a Cuba para realizar uma nova cirurgia para combater a reaparição do câncer na zona pélvica; ele indicou Maduro como sucessor do chavismo caso algo lhe aconteça. A cirurgia, realizada nesta terça, foi qualificada de "bem-sucedida" pelo governo. É o quarto procedimento cirúrgico a que se submete o presidente venezuelano. "A operação de ontem foi uma operação complexa, difícil e delicada, o que nos diz que o processo (de recuperação) vai ser complexo e duro", afirmou Maduro. Reiterando o chamado à unidade de Chávez, Maduro utilizou nesta quarta o novo "mantra" do governo para tranquilizar a população. "Nós, aqui, em nome das forças políticas da revolução, em nome do mando político, podemos dizer que estamos mais unidos que nunca, espiritualmente, politicamente; estamos unidos na lealdade a Chávez e a nosso povo", afirmou Maduro. Ao seu lado estavam o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, e o ministro de Energia e Petróleo, Rafael Ramirez. Ambos acompanharam a cirurgia de Chávez em Havana e retornaram nesta madrugada a Caracas. Pouco depois das declarações de Maduro, o ministro de Comunicação, Ernesto Villegas, publicou uma nota ainda mais pessimista. "Confiemos que, com o amor de milhões, o comandante se recuperará logo e virá tomar o comando antes de 10 de janeiro. Se não for assim, nosso povo deve estar preparado para entendê-lo", afirma. "Irresponsável seria ocultar o delicado momento atual e dos dias que estão por vir." Oposição Se Chávez ficar impossibilitado de dirigir o país, Maduro assumiria o cargo até 10 de janeiro, data marcada para a posse de Chávez. Depois disso, a Constituição venezuelana determina que o presidente da Assembleia Nacional - atualmente Cabello, um dos principais aliados de Chávez - assuma interinamente a Presidência e convoque novas eleições presidenciais em 30 dias. A oposição também foi surpreendida com a recaída de Chávez e se preocupa caso tenha que ir a eleições presidenciais novamente. Publicamente, os dirigentes opositores desejam a recuperação do presidente e evitam falar em nomes que poderiam assumir a candidatura presidencial. Diante desse cenário, as eleições para governadores, no próximo domingo, são consideradas cruciais, em especial no estado de Miranda, onde fica a capital Caracas. Nesse estado, a disputa é entre o ex-candidato presidencial Henrique Capriles e o ex-vice-presidente Elias Jaua. Para analistas, se Capriles vencer, poderia se consolidar como líder da oposição e sairia fortalecido para competir novamente na eleição presidencial. Caso perca, haverá um novo cenário de disputa interna entre a coalizão opositora para eleger o candidato que enfrentaria Nicolás Maduro - candidato já apontado por Chávez - se novas eleições tenham de ser convocadas. Publicamente, Capriles tenta evitar comentar a possibilidade de ir a eleições presidenciais. "Não estou fazendo essas continhas", afirmou à imprensa local. Até a recaída de Chávez, não havia clima de campanha para as eleições regionais. Agora tudo mudou. Em comício, os candidatos chavistas afirmam que votar por eles "é votar por Chávez". A candidatura da oposição se vê mais uma vez ofuscada por Chávez, ainda que a disputa não seja diretamente com o presidente. Consternação Diante da incerteza quanto à recuperação de Chávez, o clima no país é de consternação entre a maioria da população, que vê em Chávez mais que um líder político. "Chávez é nosso líder, mas também é nosso amigo, irmão, pai, ele representa a pátria que resgatamos com essa revolução", afirmou à BBC Brasil Tommy Menezes, assistente social, que acompanhava uma vigília em solidariedade ao presidente na emblemática praça Bolívar, em Caracas. Acompanhado da esposa e do filho, Menezes disse ter esperanças na recuperação de Chávez, mas admitiu ter sentido um tom de "despedida" quando o presidente delegou a responsabilidade do governo a Maduro. Desde o anúncio da recaída da saúde do presidente, dezenas de missas e cultos ecumênicos foram realizados tanto na capital, como no interior do país, pedindo por sua recuperação. O tom messiânico com que a figura de Chávez passou a ser tratada desde que foi anunciada a doença, em junho do ano passado, é alvo de críticas de seus opositores. " Em vez de Estado, temos uma religião", escreveu Alberto Barrera, um dos biógrafos do presidente, no microblog Twitter. Ao apontar Maduro como seu substituto na liderança da revolução, Chávez tenta garantir a "sucessão" dentro do chavismo, sem fraturas internas de disputa pelo poder. Ao mesmo tempo, de acordo com analistas, ele transfere a comoção gerada em torno a seu estado de saúde a favor da candidatura de Maduro. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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