Visita de Kadafi causa polêmica na França

Oposição critica Sarkozy por receber líder líbio, acusado de violações de direitos humanos.

PUBLICIDADE

Por Daniela Fernandes
Atualização:

A primeira visita do presidente da Líbia, Muammar Kadafi, à França em mais de três décadas está causando grande polêmica no país. Partidos de oposição, intelectuais e grupos de defesa de direitos humanos acusaram o presidente do país, Nicolas Sarkozy, de privilegiar interesses comerciais e ignorar o passado do líder líbio, marcado por acusações de violação de direitos humanos e patrocínio de atividades terroristas. As críticas contra a visita de Kadafi ganharam força desde a última sexta-feira, depois que ele declarou, na véspera da cúpula União Européia-África em Lisboa, considerar "normal que os fracos recorram ao terrorismo para enfrentar as grandes potências". "Sarkozy vai receber um chefe de Estado que acha o terrorismo internacional algo justificável. Nenhuma assinatura de contrato comercial pode explicar tal cegueira do presidente francês", afirmou o secretário-geral do Partido Socialista, François Hollande. Esta é a primeira viagem de Kadafi à França desde 1973. Durante os cinco dias em que permanecerá no país, o líder líbio terá dois encontros com o presidente Sarkozy. Os socialistas já declararam que tentarão boicotar a visita de Kadafi ao Parlamento francês, prevista para terça-feira. Já o presidente Sarkozy disse à Kadafi, no encontro em Lisboa, no sábado, diante de câmeras de TV, que está "muito feliz de recebê-lo em Paris". As autoridades francesas afirmam que Kadafi realizou uma série de gestos importantes no passado recente, como ter renunciado ao programa de armas nucleares em 2003 e libertado as enfermeiras búlgaras acusadas de terem contaminado pacientes com o vírus HIV, episódio que teve a mediação do presidente Sarkozy. O governo francês espera concluir vários contratos com a Líbia, sobretudo na área de armamentos e energia nuclear. De acordo com Said Kadafi, filho do coronel, a Líbia vai realizar negócios com a França de mais de 3 bilhões de euros. "Vamos comprar aviões Airbus, um reator nuclear e queremos também comprar equipamentos militares", declarou o filho de Kadafi ao jornal Le Figaro. Além disso, o governo líbio anunciou investimentos de US$ 100 bilhões em projetos de infra-estrutura, como aeroportos, estradas e hotéis. As empresas francesas estarão de olho nessas oportunidades de negócios. De acordo com especialistas, o coronel Kadafi, após tantos anos de sanções contra seu regime, busca reconhecimento internacional. Por isso, dizem os analistas, ele utilizará sua visita à França como um elemento importante nesse retorno à cena diplomática. "O coronel Kadafi vem selar em Paris sua reabilitação diplomática", escreveu o jornal Le Monde em sua edição do final de semana. Nos últimos dias, adjetivos como "inadmissível e indigna", foram utilizados por personalidades da oposição para qualificar a visita de Kadafi. Membros do próprio governo de Sarkozy se manifestaram contra a visita do líder líbio. Rama Yade, secretária de Estado para os Direitos Humanos, declarou estar "muito chocada", pois "o prestígio da França não é devido somente à sua potência econômica, mas também a princípios e valores que fazem da França um país único". "Ficarei ainda mais incomodada se a diplomacia francesa se contentar em assinar contratos comerciais e não exigir de Kadafi garantias em termos de direitos humanos", afirmou. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.