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Voo do Uber é alterado 3 vezes antes de decolar

Com remarcações, viagem de helicóptero entre Itaim e Brooklin levou, no total, 1h20

Por Edison Veiga
Atualização:
Todo o processo, incluindo espera, embarque e desembarque, levou 1h20 Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Usar aplicativos no celular para chamar um voo de helicóptero pode até virar uma rotina no futuro em São Paulo. Mas o serviço ainda precisa ser aprimorado para isso acontecer. O Estado testou ontem o UberCopter, serviço sob demanda lançado pelo Uber na segunda-feira. Todo o processo, incluindo espera, embarque e desembarque, levou 1h20. O horário do voo foi informado e alterado três vezes. Duas outras saídas previstas para o mesmo local acabaram canceladas.

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O voo em si durou três minutos, entre os Hotéis Blue Tree Premium, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, no Itaim, e o Sheraton WTC, na Marginal do Pinheiros, no Brooklin. De carro, a reportagem fez o mesmo trajeto em 20 minutos. O voo custou R$ 167 – para repórter e fotógrafo. Até quinta, quando o Uber adotava uma tarifa promocional, o valor era de apenas R$ 27 por assento. O mesmo trajeto, pelo sistema convencional, sai entre R$ 1.800 e R$ 3 mil.

São preços incompatíveis, provavelmente resultado de uma tática de marketing da empresa para divulgar o serviço. Para se ter uma ideia, apenas a taxa de toque – ou seja, o valor pago quando o helicóptero pousa no heliponto – do Blue Tree varia de R$ 380 a R$ 520, de acordo com o horário.

Conforme o Estado apurou, o heliponto do Blue Tree tinha, até a semana passada, uma média de 20 pousos e decolagens por dia. Com o lançamento do UberCopter, o número saltou para quase 70. Na quarta, foram 20 voos convencionais e 46 do Uber – e outros dez foram cancelados pela empresa.

Piloto queixou-se de excesso de trabalho, visto que número de voos aumentou Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

A sobrecarga do sistema ficou nítida na quinta-feira, último dia das tarifas promocionais. A reportagem tentou encontrar um helicóptero disponível ao longo de toda a tarde, sem sucesso. Na manhã de ontem, um voo foi contratado, às 10h51. Quatro minutos depois da mensagem de confirmação pelo celular, uma atendente ligou, confirmando os dados e avisando que faria uma nova chamada para passar o horário da decolagem. Às 11h05, ela notificou que o voo estava previsto para 11h30. Em seguida, houve reprogramação para 12h; depois, nova informação de que a decolagem só ocorreria às 12h10. Por fim, o voo saiu às 12h05.

Alterações. Dois grupos tiveram os passeios cancelados pelo Uber. O gerente comercial Diego Custódio, de 28 anos, que trabalha nas redondezas do Blue Tree, pretendia aproveitar o preço para almoçar no Sheraton – depois de aguardar por 40 minutos, mudou os planos.

Visivelmente estressado e sem trocar palavra com os passageiros, o piloto apressou o embarque. Foi possível ouvi-lo fazendo uma reclamação para si mesmo, em tom de quem não está nada feliz com a sobrecarga de serviço.

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Segundo a Aeronáutica, os cancelamentos e atrasos em um perímetro entre o Morumbi e a Paulista e entre o Aeroporto de Congonhas e o Cebolão – região onde estão quatro dos seis helipontos cadastrados no Uber em São Paulo – podem ser em decorrência da restrição existente: só são permitidas seis aeronaves no ar simultaneamente. Um indício de que, ao menos para essa área, o espaço aéreo atingiu seu limite com o Uber.

Outro lado. A reportagem questionou o Uber sobre os problemas com relação ao atraso do voo e os cancelamentos testemunhados. Em nota oficial, a empresa frisou que se trata de um “projeto-piloto e ainda está em fase de testes na cidade”. “Nesses últimos dias, a procura pelo serviço foi alta, mostrando o interesse que o paulistano tem em ver a cidade de cima e também se locomover com mais rapidez pela capital. Ainda estamos estudando a melhor forma de implementar o serviço. Trata-se de uma operação complexa e o Uber vê como necessário esse período de testes”, explicou. 

A companhia, entretanto, se negou a fornecer um balanço de quantos voos foram feitos na primeira semana. Sobre os preços, considera a possibilidade de novos reajustes.

São Paulo é a primeira cidade a contar com esse tipo de serviço do Uber de modo contínuo – anteriormente, a empresa havia oferecido o transporte em eventos específicos. O Uber ressaltou que as empresas parceiras que oferecem os helicópteros cumprem todas as exigências legais.