Estadão
29 de novembro de 2010 | 00h00
A REVOLTA NA ARMADA
(…) O sr. marechal Hermes, de accordo com os ministros da marinha e da guerra, resolvera atacar na madrugada de sexta-feira, a esquadra revoltosa, lançando mão , para esse fim, dos oito “destroyers”, da torpedeira “Goyaz” e dos navios “Rio Grande do Sul”, “Tymbira”, “Tamoyo” e “Barroso”.
Tudo ficou resolvido, sendo que os officiaes se offereceram para, em caso de recusa provável dos marinheiros guarnecer todos os navios.
A ordem foi transm,itida a muitos officiaes que foram chamados, a toda a pressa, sendo mesmo distribuída a senha de ordem.
Os “destroyers” conservaram-se de fogo accesos e os seus officiaes promptos para o combate.
Por outro lado, ordens severas foram transmittidas aos officiaes, commandantes das forças do exercito e às fortalezas, ainda guarnecidas por forças governistas.
A ultima hora, e com geral surpreza, foi recebida a contra ordem do presidente: nada de combate, aguardemos os acontecimentos, a população nada deverá temer.
(…) Em nenhuma hypotese a cidade do Rio de janeiro podia ser arrazda pelo bombardeio dos reclamantes, porque com a desordem inevitável do combate, os revoltosos concentrariam todos os seus tiros sobre a esquadra do governo, e não teriam em caso algum, nem calma, nem homens para o bombardeio de nossa cidade.
Por tanto, a idea humanitária da salvação da cidade deve ser abanadonada.
Os revoltosos não poderiam, em hypotese alguma, vencer a esquadra do governo, composta de navios velozes e muito bem guarnecidos.
Os officiaes briosos da marinha, todos sem excepção, receberam a ordem de ataque com grande sympathia e enthusiasmo. A honra e o brilho da officialidade brasileira estaria, deste modo, salva qualquer que fosse o resultado do combate.(…)
Conhecida a decisão do governo, ordenando a inércia dos nossos briosos officiaes, aindignação explodiu expontanea e surda.No exercito, idêntico effeito causou a contra-ordem do sr. presidente da Republica .
O Club Militar lavrou um solenne protesto e propoz conservar a bandeira nacional a meia haste em crope, por oito dias(…) os officiaes eram unânimes em condemnar a amnistia decretada pelo Congresso e sancionada pelo marechal presidente: “ Estava prepardo o ataque. Por que não atacamos? Essa historia de inexpugnabilidade dos navios precisa ser bem comprehendida. Não existe inexpugnabilidade absoluta.(…)
O governo foi fraco, e transformou a nossa actual posição em uma situação critica e insustentável. O sr. marechal Hermes preferiu sacrificar a honra da officialidade da marinha brasileira, os prejuízos materiaes e ao sacrifício de algumas centenas de vidas. Podemos, nós officiaes, applaudir esta resolução do presidente da Republica?
Não, não podemos e não devemos. O nosso dever é a obediência à essa ordem, mas o nosso applauso nunca será para ella. (…)”. (pág.3)
ALLEMANHA
A causa da revolta dos marinheiros brasileiros- A imprensa franceza e alleman
BERLIM, 28 (D.)- A imprensa alleman mostra-se muito infignada com a carta, publicada hontem por “Le Matin”, que a attribuiu a um brasileiro, e em que se affirmava que a revolta dos marinheiros da armada brasileira fora causada pelos castigos corporaes, adoptados no Brasil, que teria seguido o exemplo da Allemanha.
Tal affirmação, porém, não tem fundamento- e é contra isso que os jornaes se mostram indignados- porque não há applicações de castigos corporaes, nem no exercito, nem na armada da Allemanha. (pág.1)
INGLATERRA
A defesa do Brasil feita pelo “Financier”
LONDRES, 28 (H.)- O “Financier” , em editorial, rebate as insinuações feitas pela imprensa hostil ao Brasil, a propósito da revolta dos marinheiros dos navios de guerra, demonstrando ter sido um movimento destituído de caracter político.
Lembra a extraordinário prosperidade do paiz nos últimos annos; diz que o governo do Brasil merece inteira confiança dos portadores de seus títulos e que o motim naval não prejudica absolutamente o crédito e o progresso do paiz que é prospero demais para que se possam temer os prejuízos da revolta. Opina que o governo é bastante forte e podia, se quisesse, resistir às imposições dos amotinados. (pág.1)
INGLATERRA
A campanha a favor do “home-rule”
LONDRES, 28 (D.)- O sr. John Redmond, chefe dos nacionalistas irlandezes, pronunciou um discurso, dizendo que os lords são o único obstáculo para a obtenção do “home-rule” irlandez.
Disse mais que os lords opprimiram os irlandezes, deixando-os morrer á fome; que seus crimes bradam por vingança; que os irlandezes não querem criar marinha nem exercito, para invadirem a Inglaterra, nem querem estabelecer relações diplomáticas com as potencias. Os receios dos protestantes também não tem fundamento. (pág.1)
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.