210 famílias têm de abandonar prédios às pressas

Edifício se deslocou 5 centímetros de madrugada; suspeita recai sobre a obra de 4 torres de escritórios

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Duzentas e dez famílias tiveram de deixar os apartamentos, na madrugada de ontem, depois que um prédio se deslocou 5 centímetros em relação ao edifício vizinho, na Rua dos Inválidos, centro antigo do Rio. A Defesa Civil interditou oito imóveis, incluindo a Igreja de Santo Antônio dos Pobres, que foi frequentada por d. João VI e está com rachaduras. A Defesa Civil e o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) têm indícios de que a construção de quatro torres de escritórios, na mesma quadra, afetou os conjuntos próximos.O jornalista Nilmar Vieira, de 48 anos, acordou por volta de 3h30 com o som de terra caindo. Ao entrar no banheiro, descobriu que a parede havia afundado. Avisou o síndico e os bombeiros, que ordenaram que todos os moradores dos prédios 18 e 22 saíssem imediatamente dos imóveis. Pela manhã, a Defesa Civil municipal interditou o quarteirão e paralisou a obra, da construtora WTorre.A pedido da Defesa Civil, técnicos da construtora escoraram o edifício 22, que ameaçava desabar, e iniciaram o monitoramento da evolução das rachaduras. Para o conselheiro do Crea Antônio Eulálio Pedrosa, especialista em estrutura, há "98% de chances de a construção das torres ter afetado os prédios vizinhos". Segundo ele, a chuva da véspera encheu o buraco de 22 metros de profundidade, aberto para a construção de seis andares de garagem subterrânea. "A empresa bombeou a água, o que provocou o alagamento da rua, e retirou partes finas do solo que estavam em suspensão. Isso descalçou fundações que estavam mais acima", explicou.Segundo Pedrosa, o Crea vai abrir procedimento para analisar a possível negligência de engenheiros responsáveis pela obra. "Cavou-se mais de 30 metros na construção do metrô da Carioca, sem afetar prédios vizinhos como o Avenida Central. É preciso colocar placas de contenção e fazer estudo geotécnico bem elaborado", afirmou.OITO MESESMoradores se queixaram de que há oito meses começaram a aparecer rachaduras. O subsecretário de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, informou que a construtora já vinha monitorando entre 20 e 25 prédios. "Essa edificação (o prédio 22) foi uma surpresa porque está mais distante da obra", afirmou. A rua permanece interditada hoje, quando técnicos da Defesa Civil farão nova vistoria.Em nota, a WTorre informou que disponibilizou pessoal técnico e equipamentos em "atenção a uma especial demanda da Defesa Civil", para que seja possível identificar as causas do ocorrido. "A obra segue em ritmo normal."

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