A sorte de estar usando camiseta do Brasil

Repórter da BBC Brasil ganha até ingressos de graça para futebol graças à 'amarelinha'.

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Por Eric Brücher Camara

Conseguir ingressos para os Jogos Olímpicos de Londres não foi fácil. Mesmo quem estivesse disposto a pagar, precisava ser sorteado, para então ter direito à compra. Muita gente que conheço apelou até para esgrima e badminton na esperança de ser sorteado - e nada. Eu pude comprar para um evento: vôlei. Quer dizer, tecnicamente dois, vôlei masculino e feminino, vai entender. Aí me dei conta de que o estádio do vôlei fica do lado "errado" da cidade, no oeste. O Parque Olímpico - e a minha casa - são no leste. Estava resignado a não ver por dentro o complexo que vi brotar do nada às margens do rio Lea, quando fui escalado para ir ao local a trabalho. Assim, no décimo dia olímpico, saquei a minha camisa do Brasil da gaveta e fui para Stratford. Logo na entrada, perdido em um rio de gente, um voluntário me recebeu sorridente: "Welcome, Brazil!" Como tinha tempo até o início do atletismo, fui passear pelo parque. Não sei como vai ser no Rio, em 2016, mas se forem seguir o exemplo de Londres, sugiro a quem quiser ir fazer um trabalho de condicionamento físico - as distâncias são enormes. Estádio de basquete: 15-20 minutos, pista de BMX, 20-30 minutos; e por aí vai. Colecionadores de pin Parei para conversar com uns colecionadores de pins - eles vêm às dezenas de vários países, com milhares daqueles brochinhos coloridos - "minha mulher é doida para jogar isso tudo fora", me contou um deles - e quando dei por mim, já estava na hora de voltar, para não chegar atrasado ao Estádio Olímpico. No meio de milhares de britânicos, e mais dinamarqueses, suecos, holandeses, russos, espanhóis, portugueses - praticamente todos os europeus - além de alguns sul-americanos e japoneses (onde estão os chineses, que ganham tantas medalhas?) resolvi tirar uma foto na frente do estádio. Nem bem tinha acabado, fui abordado por um grupo de rapazes ingleses, que me identificou pela amarelinha: "Você conhece algum brasileiro que queira ir ao jogo do Brasil em Manchester (a semifinal olímpica contra a Coreia do Sul)?" Meio surpreso, respondi que não sabia, mas já sacando o celular, disse que poderia descobrir. "Não precisa. Toma aqui os ingressos. Espero que alguém possa ir, seria uma pena desperdiçá-los." Mal pude agradecer, e desaparecerem na multidão. Tirei os ingressos do envelope: 75 libras cada um (R$ 225). Olhei para os lados. Pegadinha? Não, era o tal espírito olímpico mesmo. Ganhei o dia (e o seguinte) e nem tinha entrado no estádio ainda. Lá dentro, vi Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, ganhar a sua medalha de ouro pela corrida de 100 metros rasos do dia anterior; vi o dominicano Felix Sánchez, de 34 anos, emocionar o estádio com seu choro incontrolável, depois de surpreender todo mundo e conquistar a primeira medalha de ouro para o seu país em Londres nos 400 m com barreira; vi a cubana Yarisley Silva ser empurrada pelas palmas do público para bater o recorde nacional de salto com vara e ainda levar a prata. Na saída, ao me ver, outro voluntário anunciou no megafone: "Brazil is leaving the house, bye bye!" Depois dizem que a amarelinha pode pesar. Não sei, para mim, acho que dá é sorte. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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