Jornalista e santista até o último fio de cabelo
É realmente desconfortável, para quem é assalariado como nós, saber que alguém consegue ganhar R$ 1 milhão por mês só para jogar futebol. Robinho ganhará quase isso no Santos, e, para muitos santistas, isso é uma afronta.
De fato, é. Mas o mundo do futebol está mesmo fora de órbita, como mostrou recente reportagem neste jornal a respeito da pindaíba de boa parte dos "poderosos" times europeus, e o astronômico salário de Robinho faz parte disso - ou seja, não é exatamente uma anomalia. Paga quem quer.
O Santos pagará (não o Santos, claro, mas um "pool de empresas", expressão mágica que usualmente significa que um time é pobre demais para ter autonomia em relação ao contrato de seus jogadores). E decidiu pagar porque, se de um lado terá de arranjar R$ 1 milhão mensais para repatriar o astro, por outro tem 1 milhão de motivos para fazê-lo.
Fiquemos com apenas três: Robinho é o jogador que melhor representa a época de ouro do Santos na década - é o equivalente de Pelé no imaginário do torcedor santista com menos de 40 anos, um craque que fez muita gente sonhar acordado; mesmo em má fase, ele ainda é titular da seleção brasileira e está louco para assegurar sua vaga na Copa, o que garante que ele pelo menos atuará com vontade; e, finalmente, as defesas adversárias já devem estar com insônia, diante da terrível perspectiva de enfrentar Robinho e Neymar, seu clone melhorado.
NÃO:
Claudio Augusto
Jornalista e torcedor do Peixe
Quais as semelhanças entre Kaká e Cristiano Ronaldo? O craque brasileiro foi apontado como o melhor jogador do mundo em 2007, feito igualado no ano seguinte pelo astro português. Kaká conduziu o Milan a um título da Champions League. Cristiano Ronaldo fez o mesmo pelo Manchester United em 2008. Mas o mais importante para nós, no que tange a Robinho, é falar da maior diferença entre os companheiros de Real Madrid: Kaká é adorado em Milão; Cristiano Ronaldo já não conta com a unanimidade entre os torcedores dos diabos vermelhos. E isso se explica pela forma como os dois saíram de seus times. Kaká lutou para ficar em Milão, rejeitou um caminhão de dinheiro do Manchester City, e só foi para a Espanha porque Berlusconi praticamente o obrigou. Cristiano Ronaldo sempre forçou a barra para deixar o Manchester United, exatamente como Robinho fez com o Santos, com o Real Madrid e agora está fazendo com o City. Cinco anos depois e milhões de dólares mais rico, Robinho volta para o Peixe, alegando que precisa jogar por causa da seleção. Em 2005 o argumento era o mesmo. Parreira declarou que ele teria mais chances de ir à Copa se jogasse na Europa. Isso bastou para que o atacante se recusasse a treinar, forçando o Santos a vendê-lo. Lamento informar que Robinho não existe mais. Ele se transformou num sub-Denilson na sua passagem pelos campos do Velho Mundo. Acorda, presidente. O Robinho de 2002 agora tem outro nome: é Neymar!