Ao acolher o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, em sua embaixada em Tegucigalpa, o Brasil acabou responsabilizado pelas medidas de exceção adotadas pelo governo de facto de Honduras no final de semana. Até políticos independentes e cidadãos brasileiros em Tegucigalpa reclamaram da atuação do País.Logo depois de criticar o decreto executivo PCM-M 016-2009, que impôs o estado de sítio, o comissário de Direitos Humanos hondurenho, Ramón Custódio, declarou que a interferência do Brasil na crise política deu ao governo de facto o argumento para suspender direitos individuais e coletivos. "Quero agradecer ao senhor presidente (Luiz Inácio) Lula da Silva por nos ter colocado nesta situação", ironizou Custódio ao Estado.A responsabilização do Brasil está na base da justificativa governo de facto para a suspensão de direitos individuais. Nos últimos dias, o chanceler Carlos López Contreras afirmou que a decisão do presidente Lula de proteger Zelaya transformou a embaixada brasileira em uma "plataforma política da insurreição". Contreras disse que o Brasil foi "longe demais" e expôs Honduras a uma "situação de instabilidade".INTERFERÊNCIAMas, ontem, mesmo políticos afastados das correntes oficiais argumentavam que o governo brasileiro havia desrespeitado um princípio básico do direito internacional, o da não interferência em assuntos internos de outras nações, o que teria aprofundado a crise local. "Não acredito que o governo brasileiro tenha agido de má-fé, mas sua intromissão levou Honduras a uma situação dramática", afirmou a candidata independente à prefeitura de Tegucigalpa, Dóris Gutiérrez.Para a administradora de empresas Sandra Estrada, brasileira que vive com sua família em Honduras há 15 anos, o Brasil não deveria ter se metido na questão e, agora, tem a obrigação de tirar Zelaya da embaixada brasileira e do país. Sandra faz parte da pequena comunidade de 500 brasileiros que vivem em Honduras - na maioria, mulheres casadas com hondurenhos. "O Brasil jamais aceitaria uma intervenção externa em seus assuntos. Essa é uma questão que se tem de respeitar", afirmou. "O governo Lula enfiou os pés pelas mãos. Fez de tudo, menos diplomacia", completou.
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