Aécio usa emig contra ''pecha privatista''

Empresa cresce em outros Estados e vira bandeira estatizante tucana

PUBLICIDADE

Por Eduardo Kattah, Ivana Moreira e BELO HORIZONTE

A agressiva expansão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) servirá como escudo para o governador Aécio Neves diante do discurso estatizante e nacionalista que o governo Lula retomou com o envio ao Congresso Nacional do projeto que cria um novo marco regulatório para a exploração do pré-sal. Em meio às negociações da Cemig para ampliar sua participação no consórcio que controla a distribuidora Light, o governador tucano não esconde que pretende usar a estatal mineira como uma bandeira para se defender do que chama de "pecha de privatista" que, afirma, o governo tenta colar no PSDB.Desde 2003, quando Aécio assumiu o Palácio da Liberdade, a estatal mineira fez sete aquisições fora do Estado, ganhou a disputa de licitações de hidrelétricas e linhas de transmissão e estreou no mercado internacional. A estratégia de ampliar as atividades fora de sua área de concessão foi fortalecida em 2006, com a compra de 20% do capital da Light num consórcio formado por Andrade Gutierrez e Pactual Energia. A empresa quer agora comprar a participação de seus sócios na distribuidora fluminense, o que pode ocorrer nas próximas semanas.Na área de transmissão de energia, a Cemig adquiriu 2.159,5 km de linhas da Schahin e fez a sua estreia nas Regiões Norte, Nordeste e Sul do Brasil. A última tacada nesse segmento foi a compra da italiana Terna Participações, que detinha a concessão de 3,3 mil km de linhas construídas e 386 km em construção. No próximo dia 30, Aécio irá pessoalmente fechar o negócio na Itália, onde entregará um cheque de R$ 3,5 bilhões ao primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi.O resultado dessa arrancada mineira não poderia ser diferente: o valor de mercado da Cemig, que em 2003 estava em R$ 7 bilhões, hoje é de cerca de R$ 20 bilhões. "O PSDB tem bons exemplos para enfrentar esse discurso (de que é privatista)", argumentou o governador, pré-candidato à Presidência em 2010. "A Cemig é um bom exemplo de que uma empresa não é ineficiente por ser estatal." Hoje a companhia energética, que atua em 19 Estados e também tem negócios no Chile, é uma espécie de "Petrobrás mineira". Além de se firmar como a maior distribuidora do País, a meta da Cemig é atingir a liderança na geração e transmissão de energia.Atualmente, a estatal discute um acordo que prevê sua participação na Companhia Energética de Brasília (CEB), controlada pelo governo do Distrito Federal. As negociações iniciais foram capitaneadas por Aécio em conversas com o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). Segundo fontes, o negócio está próximo de se concretizar. Há ainda rumores de que a empresa estaria negociando com o Grupo Rede, uma holding que detém a concessão de várias distribuidoras no Norte e Centro-Oeste do País.Outro grande empreendimento no radar da Cemig é a Hidrelétrica de Belo Monte (Pará), prometida para ser leiloada ainda este ano e que terá potência de 11 mil MW. A empresa já participa do consórcio que constrói a usina de Santo Antônio, no Rio Madeira (RO). "A expansão da Cemig demonstra elevado entendimento sobre o futuro do setor elétrico no que diz respeito, principalmente, a um sistema único e integrado de energia elétrica", observou Rafael Quintanilha, analista da corretora Brascan. Segundo ele, a Cemig é hoje a principal vitrine dos resultados do modelo de gestão implantado pelo governador em Minas. Aécio não cansa de dizer que Cemig é uma "compradora no mercado". E tem destacado que a intenção é que a empresa se consolide como uma das principais companhias de energia da América Latina. Tanto apetite tem saltado aos olhos de alguns investidores, como é o caso da Andrade Gutierrez, sócia da Cemig na Light. A holding quer comprar parte das ações que o consórcio SEB (formado pelas americanas AES e Mirant e o brasileiro Opportunity) detém na Cemig. No fim da década de 90, durante a gestão de Eduardo Azeredo (PSDB), o governo de Minas vendeu 33% das ações da Cemig para o consórcio, que obteve financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas nunca pagou. O negócio pode por fim a essa disputa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.