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Amigas dos habanos

Discípulas de George Sand, charuteira vanguardista de seu tempo, mulheres de todas as idades rendem-se ao charme dos ‘puros’

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Por Vera Fiori - O Estado de S.Paulo

Bem antes de a mulher dar o seu brado de independência, no início do século 19, a escritora George Sand já circulava por Paris de terninho, acompanhada de seu charuto cubano. Reza a lenda que chegava a fumar sete por dia, escandalizando a sociedade. Nas telas, belas mulheres como Leslie Caron, Marlene Dietrich, Julie Andrews e Demi Moore acenderam o imaginário dos homens posando com seus habanos. Poder, sedução, glamour e também bons fluidos são atribuídos aos charutos, já que nos rituais de umbanda a fumaça canaliza energia na limpeza espiritual.

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Antes da lei antifumo, as reuniões femininas nas tabacarias e bares eram frequentes. Hoje, são bem menos. Mesmo assim, algumas confrarias, como a Candice Cigar Co., no Rio, e a Quinta das Charuteiras, em São Paulo, mantêm encontros na casa de alguma participante ou no Esch Café (bar, restaurante e tabacaria, com endereços no Leblon e nos Jardins), onde podem trocar informações sobre os produtos, relaxar e fazer novas amizades.

Com a empresária Candice Marocco à frente, a Candice Cigar Co. existe há 16 anos e tem 62 associadas, de 35 a 50 anos. "Há 20 anos, montei uma casa lotérica que também vendia cigarros importados e cigarrilhas. Vim para São Paulo, fiz um curso com o especialista Cesar Adames e me apaixonei pela história e a cultura dos charutos." Abriu a La Tabaccheria, rede de minitabacarias em pontos nobres do Rio, como o restaurante Fasano, o hotel Copacabana Palace e shoppings.

Fidel. Candice foi duas vezes a Cuba e até ganhou um concurso de degustação de charutos na ilha. De quebra, conheceu Fidel. "Ele ficou surpreso comigo, conversamos sobre tabaco e ganhei uma foto autografada."

Nas reuniões mensais, entre charutos Cohiba, Montecristo, Romeo y Julieta, Partagas, Dona Flor e outros, as charuteiras colocam a conversa em dia. "Também convidamos apreciadores famosos. Já tivemos encontros com os atores Antonio Fagundes, Marcelo Madureira, Evandro Mesquita, entre outros", afirma Candice.

Os preços não assustam a empresária - uma caixa de Cohiba Behike 56, com 10 charutos, por exemplo, custa, em média, R$ 1.700. O valor, ela diz, deve-se ao fato de serem feitos manualmente e à combinação de fatores, como solo, clima, fermentação. Cuba, Costa Rica, República Dominicana, Nicarágua e Honduras são grandes produtores. "Mas os nacionais não ficam atrás, como o Dona Flor."

Candice despertou a curiosidade de amigas. Uma delas foi Sylvia Regina Augusto Lourenço, que virou sua sócia na tabacaria. Além do sabor e aroma, Sylvia curte todo o ritual. "Ninguém fala: ‘Vou ali rapidinho fumar um charuto e já volto’. Exige um tempo, por isso é gostoso compartilhar o momento com os amigos." Sylvia prefere o Mille Fleurs, da marca Romeo y Julieta, intercalando as baforadas com uísque ou vinho. E o marido? Será que não reclama? "Ele começou a fumar por minha causa !"

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Já a antropóloga Valéria Brandini começou a fumar charutos na Itália, quando fazia doutorado em Roma. De volta ao Brasil, manteve o hábito. "Logo, mais amigas se interessaram e criei a confraria Quinta das Charuteiras. Mas a nossa é aberta aos homens." Os encontros, às quintas-feiras, dependem da disponibilidade dos participantes.

O hobby de Valéria tornou-se tão popular entre amigos que, quando ela ainda lecionava em uma faculdade, seus alunos chegavam a presenteá-la com os "puros". "Ao contrário do cigarro, que tem uma série de componentes químicos, no caso do charuto fuma-se o tabaco enrolado. Ainda, o habano seduz porque está no mesmo patamar da arte degustativa."

Segundo Valéria, que aprecia o Cohiba Sublime e os das marcas Partagas e Montecristo, persiste a ideia de que as mulheres não entendem do assunto ou que fumam para impressionar os homens - aliás, o que de fato acaba acontecendo, mesmo que essa não seja a ideia...

Aos iniciantes, o conselho da antropóloga é se deixar levar pelo gosto pessoal. Para os estreantes, ela sugere Cohiba Siglo II (Cohiba) ou Mille Fleurs (marca Romeo y Julieta).

 

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Ponto de vista feminino

Quer saber tudo sobre charutos? Com histórias saborosas, curiosidades e informações, Fernanda Ayoub assina uma seção especializada no site Basílico (www.basilico.com.br). Formada em hotelaria e pós-graduada em bebidas, Fernanda conta que o interesse começou na faculdade. "Um professor simulou um campeonato de epicure sommelier, que consiste na harmonização de charuto e bebida. Ganhei e o prêmio era participar do concurso brasileiro. Fiquei em segundo lugar. Depois trabalhei na tabacaria Lenat, adquirindo experiência."

Fernanda observa que, culturalmente, o charuto pertence ao universo masculino, o que ainda causa embaraços. "Ao entrar numa tabacaria, os vendedores perguntam se é para o meu pai, marido ou namorado. Também indagam se não gostaria de levar um charuto mais leve. É como associar o paladar feminino a vinho branco docinho. No começo, qualquer iniciante, independentemente do sexo, deve educar a boca com um mais suave, para não ficar com uma impressão ruim." Se quiser acertar na harmonização, anote a dica de Fernanda: Cohiba Robusto e vinho do Porto Graham’s 10 anos. Quem quiser saber mais, pode acessar seu site: www.lebonvivant.com.br.

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