Em uma tumultuada e rápida entrevista no Palácio do Planalto, após audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), evitou anunciar o afastamento do delegado-geral do Estado, Raimundo Benassuly. A governadora afirmou que questões do Estado serão resolvidas no Estado. O delegado, chefe da Polícia Civil do Pará, causou indignação hoje na platéia de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado ao afirmar que a menor presa por um mês em uma cela com 20 homens e submetida a violências sexuais "tem, certamente algum problema, uma debilidade mental, porque em nenhum momento manifestou sua menoridade penal". Ana Júlia disse que pedirá explicações ao delegado. "Em relação ao que vai acontecer (com o delegado), medidas administrativas em relação à segurança pública do Pará, eu, como governadora, tomarei no Pará. Irei chamá-lo para conversar pedindo explicações", declarou, cautelosa, a governadora petista. Segundo Ana Júlia, as declarações do delegado "são inadmissíveis". E prosseguiu: "Não existe nenhuma justificativa e nós não vamos tolerar." Ana Júlia anunciou que, desde que assumiu o governo, existiam 94 vagas femininas nas cadeias do Estado, número que ela afirma ter dobrado. Hoje, segundo sua assessoria, são 204 vagas para mulheres presas no Pará. A governadora reconheceu, no entanto, que dos 132 municípios do Pará, 123 não têm espaços apropriados para as mulheres. "Nosso governo está fazendo todos os espaços com locais apropriados", declarou. Recursos A governadora informou que o governo federal vai liberar R$ 89,9 milhões para o Estado. Os recursos estavam bloqueados e serão aplicados na construção e reforma de penitenciárias, aquisição de equipamentos para as polícias Civil e Militar e os bombeiros, realização de ações sociais, qualificação dos profissionais de segurança no atendimento a mulheres em situação de violência, entre outros. As verbas, segundo a governadora, serão destinadas também à construção de dois presídios femininos em Marabá e Santarém, além da ampliação do presídio de Abaetetuba para abrigar a ala feminina. Segundo Ana Júlia, Lula determinou ao Ministério da Justiça que dê "todo o apoio institucional, financeiro e político às ações que o governo do Estado já está tomando". Indagada se a mesma menor já havia sido presa outra vez, em junho, a governadora declarou que, quando soube do fato, tomou medidas efetivas. "Nós tomamos conhecimento e tomamos todas as medidas. Afastamos todas as pessoas envolvidas, abrimos inquérito, editei um decreto que ajudou a desburocratizar a transferência de presos e determinei uma varredura em todo o sistema prisional do Estado, nas delegacias e vou solicitar o acompanhamento do Ministério Público. Estas foram todas as medidas enérgicas e imediatas que governo do Estado tomou, e eu espero que os outros Poderes façam a mesma coisa", desabafou a governadora. "Nós estamos agindo de forma firme para mudar a realidade caótica que nós encontramos." A governadora informou ainda que uma varredura será feita em 15 dias nas delegacias e, por um ano, um grupo integrado por pessoas do governo do Estado e do Ministério Público acompanharão todos os locais. "Estas medidas são exatamente para que nenhum tipo de questão como esta se repita, porque eu me senti duplamente indignada, como governadora e como mulher", afirmou.
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