Análise: As opções para os três maiores líderes políticos do Paquistão

Decisões de Pervez Musharraf, Benazir Bhutto e Nawaz Sharif podem mudar destino do país.

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Por BBC Brasil
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O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, foi reempossado nesta quinta-feira como presidente civil, depois de ter cedido à pressão doméstica e internacional e renunciado ao comando das Forças Armadas. Musharraf, que assumiu o poder em um golpe de Estado em 1999, também anunciou que o estado de emergência no país, anunciado em três de novembro, será suspenso no dia 16 de dezembro. Ainda não está claro se as mudanças vão amenizar a crise política no país, já que a oposição ameaça boicotar as eleições parlamentares marcadas para oito de janeiro. As próximas semanas, até as eleições, prometem ser decisivas para o Paquistão, e o correspondente da BBC em Karachi Ilyas Khan analisa as possibilidades para os três grandes nomes da política no país: Musharraf, a ex-primeira-ministra Benazir Bhutto e o também ex-premiê recém-chegado do exílio Nawaz Sharif. A renúncia de Pervez Musharraf ao comando das Forças Armadas é vista como o fato mais importante no Paquistão desde o golpe de 1999. Musharraf teve que impor o estado de emergência e demitir mais da metade dos juízes da Suprema Corte para que sua reeleição fosse aprovada. A polêmica deve continuar enquanto Musharraf se prepara para dividir o poder com um primeiro-ministro eleito pelo povo em janeiro e um comandante das Forças Armadas com opinião própria. Musharraf ainda terá o poder de afastar o novo gabinete de governo, que surgirá após as eleições, mas sua habilidade vai depender da popularidade do primeiro-ministro e de o Exército apoiar ou não uma medida tão drástica. Mais a preocupação mais imediata de Musharraf será com o desempenho do seu partido, o PML-Q, nas eleições. A ex-primeira-ministra Benazir Bhutto está se preparando para entrar no mesmo sistema que a colocou em desvantagem na década de 90. Depois de ser eleita a premiê do Paquistão duas vezes, ela foi retirada do cargo por presidentes que usaram seus poderes para exonerar o governo com o apoio tácito do Exército. Mas, depois de voltar ao Paquistão neste ano, após oito anos de exílio, críticos e admiradores acreditam que ela está mais sábia atualmente. Cotada para voltar a ser primeira-ministra, Bhutto tem o apoio da maioria na Província de Sindh (sudeste do país) e também muita força na Província do Punjab (nordeste do Paquistão), que reúne mais de 50% dos eleitores paquistaneses. Se ela conseguir dividir os votos entre os adversários, seu partido, o Partido do Povo Paquistanês (PPP), conseguirá maioria no parlamento, o que a elegeria como a próxima premiê. Ela também poderá fazer um acordo com Nawaz Sharif no Punjab e, assim, minimizar as chances de vitórias do partido de Musharraf na província. Mas um possível boicote da eleição por parte de Sharif e qualquer manipulação das eleições por parte do governo poderia levar a um parlamento em que nenhum partido tivesse maioria, o que seria a melhor situação para Musharraf. Como Benazir Bhutto, Nawaz Sharif foi primeiro-ministro duas vezes e parece ter menos chances de voltar ao posto, comparado com Bhutto ou mesmo como o indicado do PML-Q. Mas se ele fizer campanha por seu partido, poderá ter um grande impacto na Província do Punjab e poderá ser até a figura decisiva na retirada do PML-Q do poder. A candidatura continua em dúvida, em parte devido a uma condenação à prisão perpétua em 2000 por seqüestro e terrorismo. A sentença foi depois suspensa pelo governo de Musharraf, que o mandou para o exílio no mesmo ano. Uma das condições impostas por Sharif para que seu partido participasse da eleição é que os juízes demitidos por Musharraf, quando o presidente introduziu o estado de exceção, voltem aos cargos. A possibilidade disso ocorrer parece quase inexistente, pois a exoneração deles foi importante para que Musharraf conseguisse voltar ao cargo de presidente, com juízes mais submissos. Sharif também já disse que nunca aceitará ser o novo premiê enquanto Musharraf for o presidente. Então, o melhor caminho para Sharif seria o boicote a eleições, com o objetivo de tirar a credibilidade da votação. Para isso ter impacto, Bhutto teria também que aderir ao boicote. Ou então Sharif poderia tentar fazer um acordo eleitoral com Bhutto para derrotar o partido de Musharraf. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.