Análise: Eleição no Zimbábue tem participação inédita da oposição

Rival do presidente Robert Mugabe atrai multidões e faz campanhas em seus redutos.

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Por Joseph Winter
3 min de leitura

As eleições deste sábado no Zimbábue são as mais empolgantes desde as de 1980, realizadas um ano após a inpependência do país e que levaram o atual presidente Robert Mugabe ao poder. Pela primeira vez desde a formação de uma oposição com credibilidade, há oito anos, a campanha eleitoral tem sido pacífica, com os candidatos que desafiam Mugabe tendo acesso às áreas rurais - onde mora a maioria dos eleitores. Ao contrário do que fizeram em outras eleições, as milícias do presidente têm deixado a oposição em paz. O motivo pode ter a ver com a entrada na disputa de Simba Makoni, ex-ministro das Finanças que tem o apoio de lideranças do Exército e conta com boa aceitação tanto entre eleitores do Zanu-PF como entre simpatizantes da oposição. Alguns dizem que Makoni entrou na corrida tarde demais para ter uma chance realista de ganhar e que, portanto, o principal adversário de Mugabe é o veterano líder oposicionista Morgan Tsvangirai. 'Menino novo' Mas o anúncio de Makoni, integrante do partido governista, o Zanu-PF, de que disputaria as eleições como candidato independente, há seis semanas, agitou a campanha e levou muita gente a se registrar para votar. "Ele é o menino novo do pedaço", disse um morador de Harare à BBC. "Ele é o único que pode derrotar o presidente porque tem mais chance nas áreas rurais." Se nenhum dos candidatos obtiver 50% dos votos, a eleição vai para segundo turno. Os votos anti-Mugabe provavelmente se uniriam em um segundo turno, o que significa que as melhores chances de o presidente se reeleger estão neste sábado. Mas não está claro como a candidatura de Makoni pode influenciar o resultado. Por causa do longo histórico de Mugabe de recorrer às mais variadas táticas para permanecer no poder, há quem suspeite que a entrada do ex-ministro seja uma jogada diversionista para dividir o voto anti-Mugabe. Outra análise, porém, indica que ele pode justamente dividir os votos do Zanu-PF. A campanha do ex-ministro diz que a maioria dos líderes do Zanu-PF o apóia, apesar de apenas um grande nome do partido, Dumiso Dabengwa (ex-ministro do Interior), ter declarado isso publicamente. Multidões Durante a campanha, Tsvangirai tem atraído as maiores multidões. Isso não significa que ele terá mais votos no dia da eleição. Parte dos eleitores pode ser atraída pela distribuição de brindes e comida, e muitos dos presentes podem não estar registrados para votar. Mas o fato é que o MDC vem ganhando confiança. A crise econômica não poupou redutos de Mugabe e a redistribuição de terras que assegurou lealdade de eleitores no passado não levou a melhores padrões de vida, como ele prometeu. As pessoas culpam cada vez mais o governo pela falta de produtos básicos nas lojas e de dinheiro nos seus bolsos. "Não tenho dúvida de que nós temos um grande apoio", disse Tsvangirai à BBC. Mas algumas semanas de campanha podem não ser suficientes para superar o efeito de anos em que a voz da oposição foi mal ouvida nas áreas rurais. Resultado Mugabe diz que os problemas do Zimbábue são resultado de um plano ocidental para derrubá-lo e ele ainda pode ter novos truques escondidos na manga. Tsvangirai tem uma longa lista de queixas eleitorais, mas teme que a Comissão Eleitoral as julgue de acordo com a conveniência do partido governista. O governo, por sua vez, nega estar planejando interferir nas eleições. O candidato tem tentado convencer as pessoas de que quanto mais gente votar contra Mugabe, mais difícil será alterar o resultado. E é nesse sentido que a entrada de Makoni pode ser significativa. Segundo o analista político John Makumbe, líderes militares e agentes da temida polícia secreta de Mugabe apóiam Makoni e podem se recusar a apoiar uma eventual manipulação do resultado. "Não é uma questão de se Mugabe vai tentar fraudar a eleição, é uma questão de se vão permitir que ele faça isso." Com o resultado da eleição tão incerto, as pessoas estão começando a se perguntar se Mugabe aceitaria uma derrota. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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