O segundo turno da eleição municipal na capital paulista entre José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) pode ser vista como uma disputa entre rejeições. De um lado, a resistência de boa parte do eleitorado ao tucano e, de outro, um antipetismo que atinge parcela significativa dos eleitores. As duas candidaturas admitem que a rejeição é um problema e parecem apostar nos ataques para conquistar os eleitores que não votaram neles no primeiro turno. Mas cientistas políticos ouvidos pela Reuters alertam que os candidatos precisam tomar cuidado com as críticas para não tornarem a campanha agressiva a tal ponto de afugentar os eleitores. Pelas pesquisas, Serra tem uma rejeição de 40 por cento e Haddad de 25 por cento, mas avalia-se que cerca de um terço dos paulistanos jamais vota num candidato do PT para cargos majoritários. "O que eu acho que é mais problemático nessa eleição... é que 57,5 por cento do eleitorado ativo não votou nem no Serra nem no Haddad. Esse é o dado mais importante. Você tem quase 60 por cento que não quer saber nem de um, nem de outro", argumentou o cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Carlos Melo. "O eleitorado está dizendo para eles uma coisa muito clara: 'estamos cansados dessa briga de vocês'", acrescentou Melo. Esse cansaço da briga entre os dois partidos é o que determinará o limite que os dois candidatos terão para se atacar durante a rápida campanha do segundo turno. Dependendo da dosagem, eles podem ser bastante eficientes. "Eu discordo daquela ideia de que campanha negativa no Brasil não funciona. Acho que funciona sim. Na eleição de São Paulo a gente viu isso acontecer novamente contra o (Celso) Russomanno (candidato do PRB que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, depois de liderar as pesquisas por meses)", disse o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores Associados. O RISCO DOS ATAQUES Para Leonardo Barreto, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), há dois riscos quando a estratégia da campanha se baseia no ataque ao adversário. "Primeiro, o candidato pode ser visto como um ranzinza e os eleitores começarem a não gostar de te escutar. Ninguém quer aquele que só reclama", explicou Barreto. "O segundo problema é criar um cenário de terra arrasada, e aí as pessoas perdem a fé em todas as opções. Então, pode aumentar o número de votos nulos e abstenções", acrescentou o cientista político da UnB. Desde o início do programa eleitoral gratuito no segundo turno, Serra e Haddad têm usado parte do seu tempo para "desconstruir" a imagem do outro. A arma preferida da campanha tucana, até agora, tem sido o escândalo do mensalão, que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tendo figuras proeminentes do PT já condenadas. Os petistas, por outro lado, usam a quebra de promessa de Serra, que na campanha de 2004, quando se elegeu prefeito disse que cumpriria o mandato até o final, mas deixou o cargo em 2006 para concorrer ao governo do Estado. E também a relação com o atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), mal avaliado pela população. O coordenador da campanha de Haddad, o vereador Antônio Donato, justifica os ataques com o argumento de que "o que o adversário faz implica em ajustes" na estratégia, dizendo que a ideia é fazer uma campanha propositiva. "Quem precisa correr risco são eles, nós estamos na frente", acrescentou Donato, referindo-se às primeiras pesquisas após o primeiro turno. O coordenador da campanha tucana, o deputado Edson Aparecido, também evita colocar os ataques ao adversário como centro da estratégia da campanha, mas diz que eles têm pesquisas mostrando que o antipetismo está colando em Haddad e aumentando sua rejeição. Levando em conta esse dado, o PSDB tem feito inserções ligando Haddad a réus petistas do julgamento do mensalão, especialmente o ex-ministro José Dirceu, principal personagem do escândalo. Mesmo assim, Aparecido desconversa. "O problema político que o PT enfrenta não está sendo colocado por nós, o país está vendo. (Falar disso na propaganda) foi mais para dar satisfação para o eleitor", argumentou o tucano. "O Serra quando trata do assunto é por 30 segundos, é na inserção. Ontem (segunda-feira), num programa de 10 minutos o Serra falou um minuto (sobre mensalão)", acrescentou Aparecido. QUEM LEVA VANTAGEM? Mas com índices tão altos de rejeição e colocando os ataques ao adversário como parte da estratégia, quem tem mais chances de vencer a eleição? Para os especialistas ouvidos pela Reuters, Serra leva um fardo mais pesado. Para Barreto, da UnB, o tucano tem "duas âncoras agarradas no pé": sua rejeição pessoal e a má avaliação de Kassab. "É mais fácil desconstruir o Serra do que o Haddad", argumentou. Kassab foi eleito vice de Serra em 2004, assumindo a prefeitura dois anos depois e ganhando um outro mandato em 2008. Para Ribeiro, da MCM, os argumentos que estão sendo usados na campanha do segundo turno de um lado e de outro já são mais ou menos conhecidos. "Então pode ficar num zero a zero que, na atual situação, é ruim para o Serra, que está atrás nas pesquisas."
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