Bill Clinton prometeu certa vez que lutaria por votos "até que o último cão morra". Na quarta-feira, último grande dia dos Clinton na campanha presidencial de 2008, o ex-líder dos EUA deve mostrar com que tipo de energia lutará pelo candidato democrata Barack Obama. O discurso de Clinton a ser proferido em horário nobre, à noite, oferece o ponto alto de um dia cheio de atrações da Convenção Nacional Democrata, que indicará formalmente Obama, 47 anos, como candidato do partido para enfrentar o republicano John McCain nas eleições de 4 de novembro. Depois de um encontro com veteranos de guerra realizado em Billings (Montana), o democrata chegará a Denver, onde, na quinta-feira, deve aceitar a nomeação. Hillary Clinton, 60 anos, que foi derrotada por Obama na longa batalha das prévias, mas que declarou seu apoio inequívoco ao candidato em um discurso proferido na terça-feira, deve liberar seus delegados na quarta-feira para apoiarem Obama. "Barack Obama é o meu candidato", disse Hillary, diante de uma platéia em êxtase, e em meio a um discurso que não deixou dúvidas sobre seu desejo de colocar de lado as desavenças e lutar pela união do partido. "E ele precisa ser o nosso presidente." Na quarta-feira, em um gesto simbólico, a senadora será nomeada candidata a presidente oficialmente como uma forma de honrá-la e de aplacar a fúria dos simpatizantes dela, alguns dos quais vêm reclamando em alto e bom som sobre o fato de Obama não ter escolhido Hillary como seu vice. Os delegados presentes à convenção, ansiosos para reconquistar a Casa Branca depois de oito anos de governo do republicano George W. Bush, também ouvirão um discurso do homem provavelmente encarregado de liderar os ataques contra McCain, o companheiro de chapa de Obama, Joe Biden (um veterano senador pelo Estado de Delaware). E isso deve ocorrer no momento em que os democratas sublinham a mensagem de que McCain estaria distante das preocupações dos norte-americanos comuns com a economia porque ele e sua mulher, a rica Cindy McCain, possuem sete casas. BILL CLINTON POR OBAMA No entanto, o evento com o maior potencial dramático deve ocorrer quando Bill Clinton subir ao palco. Mais do que sua mulher, Clinton vem tendo problemas para reconciliar-se com Obama depois das prévias em que o hoje candidato, que pode vir a ser o primeiro presidente negro dos EUA, acusou o ex-dirigente de inserir questões raciais na campanha. "Ainda há muito trabalho a ser feito no front Bill Clinton", escreveu nesta semana, na revista The New Republic, Howard Wolfson, ex-estrategista sênior de campanha de Hillary Clinton. Chamado algumas vezes pelos meios de comunicação dos EUA como "the Big Dog" (o cachorrão), Clinton coroou sua volta por cima na campanha presidencial de 1992 ao prometer, diante de eleitores de New Hampshire, que lutaria "até que o último cão morra". Alguns delegados democratas presentes na convenção acreditam que, no final, o "Big Dog" latirá com vigor para defender Obama. "Bill Clinton está magoado. O ego dele está ferido", disse Brandon Hines, 20 anos, delegado mais jovem de Michigan. "Mas acho que ele superará tudo isso por Obama." O ex-presidente sentou-se na platéia na terça-feira e aplaudiu quando sua mulher convocou seus simpatizantes a darem apoio a Obama. Os republicanos, que montaram um posto avançado em Denver para irritar os democratas, tentam explorar qualquer sinal de discórdia levantado dentro do partido adversário. Depois de ficar atrás de Obama nas pesquisas de intenção devoto durante meses, McCain mostrou-se surpreso ao ultrapassar o democrata em uma pesquisa realizada diariamente pelo instituto Gallup -- nessa enquete, o republicano ficou com 46 por cento dos eleitores, contra 44 para o democrata. A pequena queda na popularidade de Obama, ocorrida apesar da escolha de Biden para dividir a chapa com ele, gerou um certo grau de ansiedade entre os democratas, para os quais o candidato precisa atacar com vigor McCain, um apelo repetido por Hillary com entusiasmo. "É verdade que John McCain é meu colega e meu amigo. Ele vem servindo nosso país com honra e coragem. Mas não precisamos de mais quatro anos dos últimos oito anos", disse. (Reportagem adicional de Thomas Ferraro)
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