Aprovação de Bachelet não ajuda Concertação

Situação chilena ilustra personalismo e crise de confiança em partidos

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Por Ruth Costas e SANTIAGO

Apesar da aprovação que chegou a 80% em outubro - a maior de um presidente chileno desde a redemocratização -, Michelle Bachelet não consegue converter sua popularidade em votos para seu candidato nas eleições de domingo, o ex-presidente Eduardo Frei.Segundo pesquisa divulgada quarta-feira pelo Centro de Estudos da Realidade Contemporânea (Cerc), Frei tem apenas 31% das intenções de voto - e o candidato conservador Sebastián Piñera, 44%. O cientista político chileno Guillermo Holzmann, professor do Instituto de Assuntos Públicos da Universidade do Chile, destaca que o fenômeno do personalismo, característica da América Latina, tem crescido ainda mais nos últimos anos. "A população é grata pelos programas sociais implementados por um líder carismático, mas a confiança nos partidos e na classe política como um todo está em queda livre. E, com isso, líderes populares não conseguem fazer sucessores."O resultado é que Bachelet pode passar para a história com um legado ambíguo. De um lado, foi a presidente mais popular da Concertação, a coalizão de centro-esquerda que governa o Chile desde a queda do regime de Augusto Pinochet (1973-1990). Do outro, pode ter de passar a faixa presidencial para um político da direita.Mesmo no que diz respeito aos seus índices de aprovação, a situação nem sempre foi favorável para a presidente chilena. Logo após assumir, em 2006, Bachelet teve de lidar com duas crises de grandes proporções. A primeira foi a revolta dos estudantes secundaristas por melhores condições de ensino - que ficou conhecida como a "revolução dos pinguins", por causa de seus uniformes escolares. A segunda, os protestos contra a mudança do itinerário de ônibus em Santiago. Seus índices de aprovação, na época, ficavam em torno de 35%.Durante os primeiros anos de seu mandato - quando a economia mundial ia de vento em popa -, Bachelet foi acusada de economizar demais os recursos obtidos com a venda de commodities em vez de fazer os investimentos para impulsionar o crescimento do país. No entanto, quando veio a crise e os preços do cobre caíram 30%, ela tinha US$ 35 bilhões guardados para investir em políticas sociais anticrise. Em parte graças a esses investimentos, a previsão do governo é que a economia do país cresça 5%. Na terça-feira, o Chile ainda deve entrar para a OCDE, o clube dos países ricos, estáveis e economicamente confiáveis. "Os efeitos da crise foram muito menores aqui do que na Europa, por exemplo", diz analista político Eugênio Guzmán, professor da Faculdade de Governo da Universidade de Desenvolvimento, em Santiago. "A conclusão lógica dos chilenos foi a de que Bachelet, dessa vez, sabia o que estava fazendo." Agnóstica e mãe solteira de três filhos - num país que legalizou o divórcio apenas em 2004 -, Bachelet conquistou apoio dentro e fora do Chile por seu carisma. Frei, ao contrário, é uma figura mais tímida, descrita por seus próprios aliados como "sem brilho". INTRANSFERÍVEL80% é a aprovaçãode Michelle Bachelet, segundo pesquisa divulgada em outubro 31% é a intenção de votopara o candidato centro-esquerdista, Eduardo Frei44% tinha Piñera,candidato da direita e favorito para a corrida eleitoral

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