Pelo segundo dia consecutivo, os argentinos voltaram a bater panelas e a realizar buzinaços na capital, Buenos Aires, e em diversos pontos do país em apoio ao setor agropecuário e contra o governo da presidente Cristina Kirchner. Um dia depois do início dos protestos, o impasse continua e o desabastecimento se intensifica. O ministro da Economia, Martín Lousteau, disse nesta quarta-feira à emissora de televisão C5N que não o governo não mudará sua decisão e que não há possibilidade de conversa enquanto o trânsito estiver interrompido pelos protestos dos produtores rurais em diferentes pontos da Argentina. "É fundamental que liberem as rodovias. Não vamos aceitar que provoquem desabastecimento", disse. "Estamos assistindo a greve de um setor que ganha dinheiro. (...) Não vamos discutir a cobrança dos impostos, de forma alguma. (...) Aqui a discussão não é sobre cobrança de impostos, mas sobre um novo modelo produtivo", afirmou o ministro. Desabastecimento O protesto do setor rural completou 14 dias nesta quarta-feira e começou após anúncio realizado por Lousteau, no dia 11, determinando aumento dos impostos às exportações da produção agropecuária argentina. Esta semana, pequenos, médios e grandes produtores do setor rural intensificaram a manifestação, que inclui interromper o trânsito com tratores e impedir a passagem dos caminhões carregados com alimentos. O resultado é visível nas prateleiras dos supermercados da capital do país, onde faltam carne, frango, entre outras mercadorias. Além disso, o temor de que o impasse entre o governo e o setor rural continue por tempo indeterminado está levando os argentinos a lotarem os carrinhos no supermercado, armazenando alimentos para os próximos dias. As dificuldades para cruzar as estradas do país, onde filas de caminhões aguardam passagem, levaram empresas de ônibus de longa distância a suspenderem, nesta quarta-feira, as viagens às províncias de Tucumán, Santiago del Estero, Salta e Jujuy - onde as manifestações são mais fortes. "Apoio ao campo" Nesta quarta-feira, aumentou o número de ruralistas e suas famílias que participam do protesto. O argumento, como afirmaram vários produtores às diferentes emissoras de televisão da Argentina, é o "repúdio" não só ao aumento dos impostos, mas também às palavras da presidente, que na véspera os acusara de realizar um "protesto da abundância" e de usar automóveis "4x4". As palavras de Cristina Kirchner provocaram o panelaço nas grandes cidades e em outros pontos do país, com os manifestantes levando cartazes com a frase: "Apoio o campo". A presidente do Banco Nación, Mercedes Marco del Pont, admitiu nesta quarta-feira à emissora América TV que o governo poderia dar um tratamento diferenciado aos pequenos produtores. Analistas afirmam que, ao criticar o setor rural de forma generalizada, igualando os mais ricos e os mais pobres, o governo "ofendeu" os menos favorecidos. Medida que, especula-se, poderia ser revista pela administração central. O setor agropecuário - principalmente a soja, o trigo e a carne - é, historicamente, o principal braço da economia argentina e gera hoje discussões sobre o rumo político da atual gestão. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.